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Juventude e Catequese: Psicopedagogia catequética

Prosseguimos com os textos sobre uma catequese segundo as idades baseados na contribuição que a Psicopedagogia pode dar à Catequese. A fase deste texto é a juventude. Como pensar uma catequese com a juventude? – É importante considerar o que caracteriza a juventude e qual o contexto social de hoje que a diferencia de tempos anteriores.

A fase da juventude é marcada pela passagem entre a adolescência e a vida adulta, no entanto ela possui seu próprio significado. Originalmente a palavra diz “aquele que pode ajudar”, isto quer dizer que a juventude é marcada por um certo grau de maturidade tanto emocional, quanto motora, pois esse significado remete à ajuda na manutenção da vida. De fato, hoje essa fase está determinada entre 19 e 30 anos, idade que geralmente as pessoas entram para o mercado de trabalho e muitos conciliam trabalho e estudos.

No campo cognitivo é uma fase sustentada pela capacidade de abstração e hipóteses. Na adolescência a pessoa está saindo do operacional concreto para a capacidade cognitiva da abstração, na juventude essa capacidade está mais assentada, por isso é um tempo propício para o contato com conteúdos que exijam maior associação metal e mesmo abstrações mais complexas. Nessa fase surgem questões éticas, políticas e sociais em geral, o que a faz propensa ao aprendizado teórico, daí ser a etapa ideal para se iniciar a vida acadêmica.

No campo da sexualidade, para Freud, a partir da fase genital toda pessoa se relaciona com o mundo a partir desta referência, com algumas crises e recorrências de fases da infância. Realmente isto pode ser considerado como verdadeiro, mas não como o todo, pois cada fase, segundo Erik Erikson, tem as crises próprias para enfrentar e dar respostas segundo cada momento da vida da pessoa, assim, em cada fase se tem a possibilidade de crescer, de evoluir na constituição humano-afetiva e espiritual.

A psicologia da juventude está à procura de coisas definitivas, mas é também uma fase de rupturas, daí porque em muitas sociedades ela ser entendida e associada como revolucionária, porém, o que a juventude entende é que suas experiências são definitivas. É exatamente isso, cada experiência parece ter um gosto de última. Isso acontece devido a maturidade ser sentida como já pronta, uma vez que se acabou de sair da adolescência. Mas é também aí que mora o perigo, tal como matrimônios precipitados, mudanças profissionais pouco consistentes, opções vocacionais muito frágeis, mas cada jovem está pensando que esta é a sua última escolha, inclusive no que se trata de dependência química. Na verdade, o jovem está procurando uma espécie de segurança que lhe ofereça alguma aprovação “social”; é por esse motivo que muitos jovens caem em extremos, no campo da política se dá como extrema direita ou esquerda; no campo religioso podem com certa facilidade ocuparem grupos fundamentalistas; a vida de lazer pode também ser assumida como única alternativa, afastando-se de toda atividade que exija compromisso e adesão mais intelectiva, isso é fruto da desconfiança e questionamento das instituições e do testemunho dos adultos.

A juventude é uma etapa de muitas procuras e de muitas experiências, daí a constante volatilidade dos jovens, mas hoje isso é ainda mais acentuado, pois até meados da década de 80 do século XX, apesar da revolução sexual na década de 60, do mesmo século, havia uma sociedade que dava parâmetros normativos sobre certos valores: a vida humana, seja do idoso, seja da criança ainda no ventre; o valor do matrimônio, constituir família; o valor da constância religiosa; o valor da figura dos pais; mas, a partir do ingresso do modelo econômico-social neoliberal, por volta da década de 90, a cultura também passou por transformações. Muitos valores se enfraqueceram ou foram radicalmente substituídos. A pessoa deixa de ser identificada pelas virtudes para ser associada ao consumo. Tudo está regido pelo consumo. E como o consumo é volátil, temos então uma sociedade volátil. O filósofo Zygmunt Bauman se refere a essa sociedade como uma sociedade líquida, utilizando a imagem de uma fluência constante, sem marcos significativos. No caso do Brasil isso é, parece-me, ainda mais grave porque o marco que fica são os modelos de “juventudes bem-sucedidas”: jogadores de futebol famosos; cantores de funk ostentação; traficantes milionários; políticos corruptos tão espertos que causam admiração; cantores sertanejos; cantores de banda de forró; pastores protestantes com seus jatinhos e mansões. Também no mundo católico há seus modelos: padres cantores; inúmeras bandas católicas procurando um assento no hall da fama… enfim, ser jovem é estar muito exposto a isto, a se guiar pela admiração dos bens e fama que outros têm. Alguém pode perguntar: o que isto tem com a catequese?

A catequese é lugar de formação da pessoa toda, não só da dimensão religiosa. Assim, a catequese entendendo um pouco dos processos da juventude pode contribuir para estabelecer marcos duradouros e marcos baseados em valores.

Um primeiro passo de uma catequese com a juventude é o da memória. Procurar fazer memória das fases anteriores: quais lembranças ficaram? – Qual contato se teve com a fé? – Em que a fé lhe dá sustentação? – Por que você continua na comunidade? – Há valores na Igreja que você entende que nos são bons? – É um processo de memória e projeto. O jovem possui normalmente uma infância em que alguns elementos religiosos foram oferecidos, pois ainda temos uma faixa intermediária entre os quarenta e cinquenta anos que educaram os jovens de hoje com alguma referência religiosa. A catequese pode usufruir dessa memória para construir uma plataforma mais sólida.

A catequese com jovens não pode ser uma catequese com conteúdos pouco consistentes. Na vida acadêmica a fé está exposta a vários questionamentos e desaprovações, por isso muitos jovens ao irem para a faculdade vão aos poucos deixando a comunidade, no entanto, uma catequese orante, baseada numa leitura mística e contextual da Palavra de Deus pode ajudar muito a nossas comunidades. Não é sensata uma catequese fundamentalista. Ela dá certo só para sustentar intolerâncias religiosas, sexistas e políticas, mas sabemos que isso não condiz com o Evangelho. O jovem pode descobrir a força do espírito cristão por meio das obras de misericórdia, por uma participação consciente na vida sacramental.

O que a sociedade neoliberal mais faz é apresentar modelos de êxito que ostentam bens de consumo: carros, mansões, namoradas, namorados, sexo, férias em lugares luxuosos, a vida é o que se pode consumir. Por sua vez, a catequese pode expor a vida de seus santos, por meio de biografias breves, por meio de teatro, por meio das redes sociais. A vida dos santos é modelo de vida cristã. Apresenta-los não como pequenos magos, a lá Harry Potter, mas humanidades redimidas, humanidades que se encontraram com a força do amor de Deus. Os santos de nosso tempo podem nos dizer muitas coisas.

Há que se valorizar a dimensão lúdica da juventude, com esportes, música, artes, contos. Considerando aquilo que a própria juventude tem a oferecer. É uma oportunidade para evangelizar a cultura. Às vezes há grupos que somente permitem letras religiosas, textos explicitamente religiosos. É um empobrecimento cultural. Potencialmente cria mentes hipócritas ou fanáticas.

Portanto, uma catequese segundo as idades pode colaborar para uma ação junto à juventude. Os desafios são muitos e cada realidade exige uma aplicação peculiar, mas linhas gerais podem ser expostas, tais como: trabalho em grupo; ações ligadas às obras de misericórdia; atividades culturais, artísticas, esportivas e conteúdos teóricos bem fundamentados. Tudo isso ligado com a vida litúrgica e orante da Igreja concorrem para uma boa catequese com a juventude.

Pe. Abimael F. do Nascimento, msc
Mestre em Teologia
Especialista em Psicopedagogia.

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