Desejo ainda neste ano novamente refletir com todos sobre a Comunhão universal dos membros da Igreja diante das necessidades comuns e mais urgentes dos irmãos e irmãs que mais sofrem no mundo inteiro.
A Igreja Católica tem uma tradição antiga que remonta aos inícios das comunidades cristãs: a comunhão dos bens.
Assim vemos no livro dos Atos dos Apóstolos que, logo após o dom do Espírito Santo em Pentecostes, dá um perfil da comunidade que dele nasceu, a Igreja de Cristo, encontramos a afirmação: “2,42 Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. 43 Apossava-se de todos o temor, e pelos apóstolos realizavam-se numerosos prodígios e sinais. 44 Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; 45 vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um. 46 Perseverantes e bem unidos, freqüentavam diariamente o templo, partiam o pão pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. 47 Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E, cada dia, o Senhor acrescentava a seu número mais pessoas que eram salvas. “ (At 2, 42-47).
A esta passagem acrescenta-se outra: “32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. 33 Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e sobre todos eles multiplicava-se a graça de Deus. 34 Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro 35 e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um. 36 Assim fez José, que os apóstolos chamavam de Barnabé (que significa “filho da consolação”). Era levita, natural de Chipre. 37 Ele possuía um campo, vendeu-o e depositou o dinheiro aos pés dos apóstolos.” (At 4, 32-37).
Assim a comunidade dos discípulos de Jesus compreendeu o que significava o mandamento que Jesus chamou de NOVO e SEU: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. (Jo 15, 12-13.)
Em situações de necessidade dos irmãos, os discípulos de Jesus, espontaneamente e não coagidos, partilharam até de sua própria pobreza para socorrer os mais necessitados e a isto se empenharam os apóstolos no recolher e distribuir o que era com generosidade e alegria doado. Assim encontramos, por ocasião de uma coleta para os irmãos perseguidos e carentes em Jerusalém, esta afirmação do apóstolo São Paulo, que estimula comunidades a participarem:“ 8 Não é uma ordem que estou dando, mas, à vista da solicitude extraordinária de outros, dou-vos ocasião de provardes a sinceridade do vosso amor. 9 Certamente conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos, por sua pobreza. (2 Cor 8, 9-10)
Assim surgiu no decorrer da história o chamado ÓBOLO DE SÃO PEDRO, que, por ocasião da celebração da Solenidade do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo, as comunidades de toda a Igreja enviam sua participação em uma COLETA, que é entregue ao Santo Padre o Papa para socorrer os que mais são necessitados quando se apresentam situações de extrema carência e necessidade em qualquer parte do mundo. Somos todos convidados a participar desta coleta que expressa de modo extraordinário o testemunho da comunhão de todos no Amor de Cristo.
Neste ano, no Sábado e Domingo dias 1 e 2 de julho, Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, as coletas de todas as comunidades serão destinadas ao Óbolo de São Pedro. É chamado óbolo em referência ao fato narrado nos Evangelhos sobre o “óbolo da viúva” (Lc 21, 1-4). O importante é participar de coração aberto às necessidades da humanidade.
+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano