Brasão da Arquidiocese de Fortaleza

“Viri probati”

Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald

O Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia está com vários assuntos difíceis a serem debatidos. Nem todos estes assuntos têm a aprovação unânime dos bispos do Sínodo. Entre os tópicos complexos que não têm a aprovação de todos os bispos esta a possibilidade de ordenar ao sacerdócio alguns homens casados, de fé comprovada e que são líderes nas suas comunidades. O Sínodo pode propor a ordenação de homens casados (viri probati) como uma exceção à Lei do celibato para ser aplicada na região da grande Amazônia onde há uma chocante escassez de padres. Em algumas dioceses Amazônicas os padres podem visitar as comunidades indígenas somente uma vez por ano. Nesta visita o padre celebra a Santa Missa, batiza os jovens preparados, administra o Sacramento de Matrimônio e a Unção dos Enfermos, e atende dezenas de confissões etc. Depois vai embora para voltar somente um ano depois!

Cardeal Cláudio Hummes, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e da Conferência Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, afirmou numa entrevista recente: “Perto de 70% das comunidades não recebem os sacramentos da Eucaristia, da Penitência e da Unção dos Enfermos, na Amazônia por falta de padres”, e continuou “Um dos caminhos para solução do problema seria a ordenação de homens casados (“viri probati”), leigos maduros de vida exemplar que receberiam o sacerdócio com dispensa do celibato”. Embora Dom Cláudio Hummes mostrou-se várias vezes simpático a essa solução, ele adverte que a decisão final sobre este assunto será do Papa Francisco.

Recentemente o Santo Padre disse: “O celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre teremos a porta aberta. Neste momento, contudo, não temos em programa falar disso”. Esta afirmação é importante porque dogmas são coisas que a Igreja considera “verdades absolutas”, assuntos fundamentais e indiscutíveis de sua fé, portanto não podem ser modificados. Por exemplo, são dogmas: a Ressureição de Cristo, e a Santíssima Trindade etc.

Para entender melhor o pensamento do Papa Francisco sobre este delicado assunto, basta lembrar as palavras dele numa coletiva de imprensa no avião de volta a Roma da Cidade do Panamá, palco da Jornada Mundial da Juventude em 2019. Nesta ocasião o Pontífice afirmou: “Pessoalmente, acho que o celibato é um presente para a Igreja, e eu não concordo em permitir que o celibato seja opcional”. Questionado sobre o possível casamento de padres ou a ordenação de homens casados, o Papa considerou: “algumas possibilidades para lugares muito remotos”, em referência à Amazônia, onde, na visão dele, “existe uma necessidade pastoral” (cf. Jornal de Minas Gerais).

Então este assunto será colocado em debate no Sínodo. No Sínodo, somente os bispos votam. É realmente um encontro com competência consultiva, mas não deliberativa. Obviamente este assunto de ordenar padres casados se limita a vasta região da Amazônia e não será para todo mundo. Os bispos votam seguindo suas consciências e, com base em suas conclusões e comentários, o Papa Francisco publicará um documento final.

Pe. Brendan Coleman Mc Donald,
Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1

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