Tragédia Ecológica

Foto: Vatican News

A humanidade já possui  compreensão de que a universalização do pa­radigma de crescimento e de consumo do mundo desenvolvido levaria a um apocalipse ecológico: o crescimento demográfico associado a um conjunto de  fenômenos, que são consequências inevitá­veis da dominação sistemática do ser humano sobre a natureza e de sua destruição, como o aquecimento da atmosfera, a contaminação da água com produtos químicos, a redução dos produtos alimentícios, numa palavra, em longo prazo, o triunfo cada vez maior do ser humano sobre o outro de si, a natureza, conduz à autodestruição até porque o ser humano é um ser de natureza.

Para onde se encaminha a humanidade? A crise ecológica manifesta o antagonismo na relação do ser humano com a natureza em seu todo e, enquanto tal, é indício de uma crise mais grave na vida humana. A tomada de consciência da questão ecológica nos demonstra, em primeiro lugar, que a natu­reza, enquanto espaço de habitação para a humanidade e pressuposto fundamental das ações humanas, não é indefinidamente explorável, mas essencialmente limitada. Enquanto ecoesfera do ser humano ela é um sistema funcional de equilíbrio, cujo aniquilamento deteriora, em suas raízes, as condições da vida humana no planeta.

Mas esta crise avança mais profundamente. Não é justamente a questão eco­lógica que nos compele a repor o problema do sentido fundamental de nosso existir no mundo e, por isto, a questionar o “sentido-fundamento” a partir de onde se configurou o processo civilizacional da modernidade?  Não seria necessário admitir que ela nos está fazendo discernir o desfecho de um período histórico e apontando para um novo paradigma civilizacional? Como a humanidade vai utilizar esses imensos desafios para crescer como humanidade, para dar um salto qualitativo na sua qualidade de humanidade, na qualidade de sua consciência? A questão ecológica é, portanto, muito mais do que ela manifesta imediatamente. O que aqui emerge é a problematização radical de uma determinada cultura, entendida como forma específica de compreender o existir do ser humano na história. Somos provocados por uma ameaça global e isso nos leva a retomar a pergunta pela validade do sentido-fundamento herdado da cultura moderna que transformou  o ser humano em princípio de determinação de tudo.

Desta forma, a crise ecológica desemboca numa crise do próprio sentido da vida humana, de sua inserção na natureza, no mundo humano, em última  instância, no todo da realidade. Trata-se, portanto, de uma crise dos parâmetros fundamentais de sua ação e uma crise do referencial último de seu existir. Mas, se a crise ecológica, num primeiro momento, é uma “crise antropológica”, pois diz respeito às chances da própria sobrevivência da espécie enquanto tal, ela, em última instância, é uma crise de sua compreensão do todo, já que é um problema do ser humano enquanto tal. Para sua solução, do ponto de vista teórico, implica uma teoria do ser humano, de seu ser, de seu sentido, que não é possível, en­quanto teoria de um segmento da realidade, sem uma teoria da realidade em si mesma e em seu todo.

Professor Manfredo de Oliveira, UFC

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