O Papa: conhecer-se e reconhecer o que é realmente importante para nós

Francisco disse na Audiência Geral que “muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade”. “Tenham cuidado com isso”, advertiu o Papa.

Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco prosseguiu o ciclo de catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral desta quarta-feira (05/10). O tema do encontro semanal do Pontífice com os fiéis, na Praça São Pedro, foi “Os elementos do discernimento. Conhecer a si mesmo”.

Na catequese da semana passada, Francisco sublinhou a oração como “um elemento indispensável do discernimento, entendida como familiaridade e confidência com Deus. A oração com o coração aberto”, sublinhou o Papa. No encontro de hoje, o Papa ressaltou “que o bom discernimento exige também o conhecimento de si”. O discernimento envolve “memória, intelecto, vontade, afetos”. “Muitas vezes não sabemos discernir porque não nos conhecemos bem, e assim não sabemos o que realmente queremos”, sublinhou.

A seguir, Francisco citou um autor de espiritualidade que disse: «Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos suficientemente, e nem sequer queremos conhecer-nos como verdadeiramente somos. Quase todos nos escondemos por trás de uma máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos ao espelho».

Segundo Francisco, conhecer-se a si mesmo “implica um paciente trabalho de escavação interior. Requer a capacidade de parar, de “desativar o piloto automático”, de tomar consciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, muitas vezes sem que saibamos.

Também requer distinguir entre emoções e faculdades espirituais. “Sinto” não é a mesma coisa que “estou convencido”; “eu gostaria de” não é a mesma coisa que “eu quero”. Assim chegamos a reconhecer que a visão que temos de nós mesmos e da realidade é às vezes um pouco deturpada. Compreender isto é uma graça! Com efeito, muitas vezes pode acontecer que convicções erradas sobre a realidade, baseadas nas experiências do passado, nos influenciem fortemente, limitando a nossa liberdade de apostar naquilo que realmente conta na nossa vida”.

Vivendo na era da informática, sabemos como é importante conhecer as senhas para poder entrar nos programas em que se encontram as informações pessoais e preciosas. Até a vida espiritual tem as suas “senhas”: há palavras que tocam o coração, porque remetem para aquilo a que somos mais sensíveis. O tentador conhece bem estas palavras-chave, e é importante que também nós as conheçamos, para não nos encontrarmos onde não gostaríamos.

Segundo o Papa, “a tentação não sugere necessariamente coisas más, mas muitas vezes coisas desordenadas, apresentadas com uma importância excessiva. Deste modo, nos hipnotiza com a atratividade que tais coisas suscitam em nós, coisas bonitas, mas ilusórias, que não podem cumprir o que prometem, deixando-nos no final com uma sensação de vazio e de tristeza. A sensação de vazio e tristeza é um sinal de que tomamos uma estrada que não era certa, que nos desorientou”. As coisas desordenadas “podem ser o título de estudos, a carreira, os relacionamentos, tudo em si louvável, mas se não formos livres, corremos o risco de nutrir expectativas irreais, como por exemplo, a confirmação de nosso valor. Você, por exemplo, quando pensa num estudo que está fazendo, pensa nele somente para se promover, para seu próprio interesse, ou também para servir a comunidade? Ali, é possível ver qual é a intencionalidade de cada um de nós. Desse mal-entendido muitas vezes vem os maiores sofrimentos, pois nada disso pode ser a garantia da nossa dignidade”, sublinhou Francisco.

Por isso, é importante conhecer-se, conhecer as senhas do nosso coração, aquilo a que somos mais sensíveis, para nos proteger de quem se apresenta com palavras persuasivas para nos manipular, mas também para reconhecer o que é realmente importante para nós, distinguindo-o das modas do momento ou de slogans vistosos e superficiais. Muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade. Tenham cuidado com isso: sou livre ou me deixo levar pelos sentimentos do momento, ou pelas provocações do momento?

O Papa ressaltou que “uma ajuda para isso é o exame de consciência, ou seja, um exame de consciência geral do dia. O que aconteceu no meu coração neste dia? Fazer um exame de consciência, ou seja, o bom hábito de reler com calma o que acontece no nosso dia, aprendendo a observar nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que procuramos e porquê, e o que afinal encontramos. Aprendendo sobretudo a reconhecer o que sacia o meu coração. Pois somente o Senhor nos pode dar a confirmação de quanto valemos. Diz-nos isto todos os dias da cruz: morreu por nós, para nos mostrar quão preciosos somos aos seus olhos. Não há obstáculo nem fracasso que possa impedir o seu terno abraço.

O exame de consciência ajuda muito, pois assim vemos que o nosso coração não é uma estrada onde passa de tudo e não sabemos. Não. Ver: o que passou hoje? O que aconteceu? O que me fez reagir? O que me deixou triste? O que me deixou alegre? O que foi ruim? Fiz mal aos outros? Ver o percurso dos sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia.

“A oração e o conhecimento de nós mesmos nos permitem crescer na liberdade. São elementos básicos da existência cristã, elementos preciosos para encontrar o próprio lugar na vida”, conclui o Papa.

Fonte: Vatican News

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