Por Equipe de Comunicação João Zinclar – IV Congresso Nacional da CPT.

“Perdemos um companheiro morto pelo latifúndio. A partir daí criamos o sindicato”, conta. As mortes não pararam. José teve outros amigos mortos. Apenas em dezembro do ano passado tombaram dois. “São coisas que fazem a gente parar, mas não desistimos”, diz.
A comunidade recorreu a diversos órgãos públicos. Apesar de tudo isso, ele lembra as conquistas. “Fomos conseguindo conquistar a terra. Conseguimos acessar políticas públicas”, ressalta José, que ainda lembrou o apoio da CPT ao longo desse processo.
Essa experiência de luta e dezenas mais estão sendo apresentadas durante as tardes do Congresso, na Universidade Federal de Rondônia (Unir), em Porto Velho, entre os dias 13 e 17 de julho. José Maria, assim como diversos companheiros e companheiras, têm partilhado suas Memórias, Rebeldias e Esperanças.
Experiências e denúncias de conflitos como essa dividida por José compõem a publicação anual da CPT, Conflitos no Campo Brasil, que esse ano completa 30 anos de registro dos conflitos que atingem as comunidades e as violências que os trabalhadores e trabalhadoras do campo, das águas e das florestas sofrem a cada dia. No Congresso, as 30 publicações estão expostas na Tenda dos Mártires.
Luis Novoa, professor da Unir, analisou algumas experiências apresentadas no Congresso e também falou sobre a importância da compilação dos dados sobre conflitos no campo.”Essa contabilidade dos nossos mortos, por difícil que seja, é fundamental para que não matem nossos mártires de novo. Eles precisam estar vivos na memória e na luta. O ato de registrar, de colocar isso no papel, é importantíssimo”, destaca.
Assista ao vídeo da análise do professor:
O registro
Na Tenda do Rio Guaporé, um dos espaços de apresentação das experiências, foram relatadas histórias sobre a maior greve de boias-frias da história do Brasil, a greve de Guariba (SP), e sobre a publicação da CPT, Conflitos no Campo Brasil. “Guariba foi um grito de libertação”, enfatizou Novoa. Relacionando a greve e o trabalho da CPT de documentar os conflitos, Luis destacou o quão importante é trabalhar com o eixo Memória no Congresso. “O sentido da memória é pensar como estamos preparados para enfrentar os desafios que estão por vir”.
Antônio foi quem trouxe a memória da greve de Guariba para o debate na Tenda. “As pessoas se reuniam em Igrejas. Os agentes da CPT ajudavam os trabalhadores a se organizarem”, contou ele, que ainda destacou a atuação de Padre José Bragheto junto aos trabalhadores. O professor Luis, ao refletir sobre essa e outras organizações de trabalhadores e trabalhadoras, destacou a contribuição das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e da CPT. “O papel da Igreja, desses padres, foi fundamental para dar força para o surgimento dessas organizações”, sintetizou.
O Congresso
O IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra acontece de 12 a 17 de julho em Porto Velho, Rondônia. Marca os 40 anos de atuação e luta dos povos por direitos à terra e liberdade. O evento pode ser assistido ao vivo.