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Nostra Aetate

Nostra Aetate é a declaração sobre o relacionamento da Igreja Católica com as igrejas não cristãs elaboradas e aprovadas pelo Concílio Vaticano II. É talvez o documento menos conhecido e paradoxalmente um dos mais ricos e mais importantes que gerou calorosas controvérsias durante o Concílio Vaticano II. É o documento mais breve do Concílio, contando somente cinco parágrafos. Nostra Aetate reorientou a compreensão e a maneira em que católicos devem se relacionar com os não-cristãos no mundo moderno. É muito relevante num país como o Brasil que tem uma enorme diversificação de religiões cristãs e não cristãs. O documento mostra que não é uma virtude para católicos se isolarem de grupos religiosos não cristãos. É incrível que os mesmos debates sobre este assunto que aconteceram 50 anos atrás no Concílio continuam hoje.

O documento nos ensina que “não podemos invocar Deus, Pai de todos os homens, se nos recusamos a comportar-nos como irmãos para com alguns homens criados à imagem de Deus” (parágrafo 5). A relação do homem para com Deus Pai, e a relação do homem para com os outros homens seus irmãos, encontram-se tão ligadas entre si que a Sagrada Escritura diz: “Quem não ama, não conhece a Deus” (1Jo 4,8). O Beato João Paulo ll chamou Nostra Aetate “a Magna Carta do diálogo inter-religioso”. O Papa Bento XVl, falando em 2007 com os membros da Fundação para Pesquisa e Diálogo Inter-religioso e Intercultural, disse: “Nós com todas as pessoas de boa vontade queremos paz. Por isso insisto que a pesquisa inter-religiosa e intercultural não é uma opção mas uma necessidade vital para o nosso tempo”.

Nostra Aetate mudou totalmente o adágio que “Fora da Igreja não há salvação”. A Igreja Católica não rejeita nada que seja verdadeiro e santo nas religiões não cristãs. Considera com sincero respeito esses modos de agir e viver esses preceitos e doutrinas. “No entanto a Igreja Católica anuncia e é obrigada a anunciar a Cristo, que é ‘caminho, verdade e vida’ (Jo14.6) no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou a si todas as coisas” (cf. 2Cor 5, 18-19). Encontramos no parágrafo 2 de Nostra Aetate o seguinte: “Eis porque a Igreja Católica exorta os seus filhos a que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os membros das outras religiões, e sempre dando testemunho da fé e da vida cristã, reconheçam, conservem e façam progredir os bens espirituais, morais e os valores socioculturais que nelas se encontram” (Parágrafo 2). Pela primeira vez na história da teologia católica um documento do Vaticano apresenta a palavra diálogo como um processo de duas vias de escutar e aprender, e a orientação da teologia católica sobre o diálogo inter-religioso nunca mais foi o mesmo.

É importante salientar que o documento Nostra Aetate não pode ser interpretado no sentido de que todas as religiões são boas ou iguais. Nostra Aetate não apresenta Cristo como uma pessoa religiosa de igual estatura com outros. “Na verdade, Cristo, como a Igreja sempre ensinou e ensina, submeteu-se voluntariamente, em virtude do seu imenso amor, à paixão e à morte, por causa dos pecados de todos os homens e para que todos cheguem à salvação. O dever da Igreja na sua pregação é, pois, anunciar a cruz de Cristo como sinal de amor universal de Deus e como fonte de todas as graças”. (Parágrafo 4).

Nostra Aetate mostra grande estima e respeito para o Hinduísmo, o Budismo e de uma maneira especial a religião Muçulmana e a religião Judaica. Parágrafo 3 do documento trata exclusivamente da religião muçulmana. A Igreja Católica tem grande respeito pela religião muçulmana criada pelo profeta Maomé com sua doutrina encontrada no livro sagrado, o Alcorão ou Corão. Os Muçulmanos “adoram o Deus uno, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens. Procuram submeter-se de todo o coração aos decretos, mesmo ocultos, de Deus, como a Deus se submeteu Abraão, a quem a fé islâmica se refere com simpatia. Ainda que não reconheçam Jesus como Deus, veneram-no, no entanto, como profeta. Honram Maria, sua Virgem Mãe, e chegam mesmo a invocá-la com devoção. Além disso, aguardam o dia do juízo, quando Deus retribuirá todos os homens ressuscitados. Têm estima pela vida moral e rendem culto a Deus, sobretudo com a oração, esmolas e jejum” (Parágrafo 3).

O Beato João Paulo II chamou os Judeus de “nossos irmãos mais velhos”. O documento Nostra Aetate dedicou o parágrafo 4 à religião judaica. “A Igreja Católica reconhece, com efeito, que as premissas da sua fé e da sua eleição se encontram já integradas ao mistério divino da salvação, nos Patriarcas, em Moisés e nos Profetas. Afirma que todos os fiéis de Cristo, filhos de Abraão segundo a fé, estão incluídos na vocação deste patriarca e que a salvação da Igreja está misteriosamente prefigurada no êxodo do povo eleito da terra da servidão”. Uma coisa importante mencionada no documento é a seguinte: “Ainda que as autoridades judaicas, com seus sequazes, tenham determinado a morte de Cristo, o que se passou durante a sua paixão não se pode atribuir nem indistintamente a todos os judeus de então nem aos judeus de nosso tempo”.

Este importante documento do Concílio Vaticano II termina com a seguinte observação: “A Igreja reprova, como contrária à vontade de Cristo, qualquer espécie de discriminação entre os homens ou de perseguição perpetrada por motivos de raça ou de cor, de condição social ou de religião”. Este documento foi aprovado no Concílio no dia 28 de outubro de 1965. Acredito que seu conteúdo é de vital importância para a Igreja meio século depois de sua promulgação.

Padre Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1

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