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Na Páscoa, a realidade última

Permita-me, com relação à morte, ao se contrapor com a vida, quando esta não se harmoniza com a existência humana, devemos pensar na vida envolvida em mistério. Que a nossa reflexão seja no sentido de se pensar na morte circundada de mistérios, contornando o perímetro do coração humano, mas no mais elevado silêncio e respeito. Devemos pensar na morte a partir da vida, que vibra, pulsa e palpita, aqui no recado de São João XXIII, ao se despedir dos padres conciliares, em 1962, no final da primeira sessão do Concílio Vaticano II: “Quando vocês voltarem para casa encontrarão crianças. Deem a elas um carinho e digam: Este é o carinho do Papa”. Pulsar, sim, no verdadeiro Cordeiro, naquele que, morrendo, destruiu, inabalavelmente, a morte, na mais absoluta certeza de que na sua Páscoa as portas do reino celestial nos são abertas, para se compreender, no mistério da fé, que a criatura humana foi redimida na sua entrega, no seu oferecimento pela humanidade.

A partir da vida das crianças, fica nossa profunda gratidão àquilo que se irrompe como eclosão da Páscoa. Que cresça o fervor do povo de Deus, no mesmo mistério, com a consciência de que só se conseguirá dar passos e avançar na vida solidária quando se convence do auxílio da graça que brota do mistério pascal. Na Páscoa, mistério inabalável de amor e esperança, quando se apreende e se apropria do prosseguimento da vida, no descruzar dos braços, rumo ao novo “amanhã”, a criatura humana, com seus limites, mas com uma vontade de caminhar na direção das realidades últimas, fica naquela esperança, antevendo, pela fé, a realidade paradisíaca, no contexto do absoluto, na realidade última, no coração dos homens e das coisas.

O mistério inabalável da Páscoa, sendo derrotado o que é corruptível, proporciona a realização da nova criação. Jesus, na oblação de seu corpo, o lenho da cruz tem seu ponto mais elevado. Enfim, tudo plenificado, pacificado e conciliado consigo. A vida, em um grau superior, vigorosamente muito acima da teoria, no instinto e sentimento permanente, ininterrupto e inalterável, iniciado pelo pensar das pessoas, encontra seu ponto alto e conclusivo no agir humano, mesmo no humilde entendimento e compreensão do amor, não suficiente, ou insuficiente, a partir da verdade, da liberdade, da beleza, da bondade, da alegria e da felicidade. Temos, por exemplo, um sentimento de decepção inexorável, quando repercutiu, ou ressoou, em 1958, no mundo inteiro, a eleição do Papa João XXIII (1881-1963).

Foi visto de imediato como um papa de bastante idade, longe de se depositar entusiasmo e confiança, que dificilmente iria corresponder aos anseios e clamores da humanidade; parecendo desanimar a todos, até mesmo pelo seu mandato, por causa da idade, seria curto ao tampão. Mas sua surpreendente maneira de perceber o mundo, pelas suas ações e iniciativas revolucionárias, burlou o mundo. Logo a humanidade passa a experimentar os sinais admiráveis de esperança, na sua abertura para com o mundo, que se modernizava, num compromisso de renovação ou “aggiornamento” mundo afora, sendo cognominado “o Papa da Bondade”.

Padre Geovane Saraiva – Pároco de Santo Afonso, blogueiro, jornalista, escritor, poeta e integrante da academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (AMLEF).

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