Leão XIV: não à lógica da retaliação, que os corações sejam libertados do ódio

Foto: Vatican Media

Em uma mensagem no “X”, o Papa relança o convite para que esta sexta-feira seja vivida como um dia de oração e jejum pela paz: “Prevaleça uma visão de conjunto inspirada pelo bem comum”. Ampla adesão de episcopados e comunidades eclesiais ao apelo do Santo Padre. Não só no Oriente Médio e na Europa: existem, de fato, mais de 56 conflitos mais ou menos “esquecidos” que geram luto e sofrimento entre as populações.

Valerio Palombaro – Cidade do Vaticano

O mundo está “ferido por contínuas guerras”. Pelo menos 56, segundo o portal independente ACLED (Armed Conflict Location and Event Data Project). Dos conflitos mais eclatantes, como Gaza, Ucrânia e Sudão, aos menos conhecidos, que frequentemente envolvem atores não estatais, passando por guerras “congeladas” que permanecem sem solução, mas sempre correm o risco de eclodirem novamente, como ocorreu recentemente com a disputa de fronteira entre Tailândia e Camboja ou a disputa entre Paquistão e Índia pela Caxemira.

A Urgência da Paz

O Papa Leão XIV, ao proclamar um Dia de Jejum e Oração para esta sexta-feira, apelou à necessidade urgente de paz e perdão para “enxugar as lágrimas daqueles que sofrem por causa dos conflitos em curso”. Praticamente todas as Conferências Episcopais e dioceses aderiram, a começar pela Conferência Episcopal Italiana. Com o cardeal Matteo Zuppi, imediatamente após o anúncio do Santo Padre para “intensificar a oração por uma paz desarmada e desarmante”, numerosas dioceses e movimentos religiosos na Itália começaram a se mobilizar.

Na Audiência Geral, o Pontífice recordou a memória litúrgica da Bem-Aventurada Virgem Maria Rainha, que se aproxima, e pediu orações pelo fim das guerras na Terra Santa, na Ucrânia …

A Conferência Episcopal Espanhola também anunciou em comunicado que acolheu o convite do Papa, recordando a carta dirigida aos bispos em 8 de agosto por seu presidente, dom Luis Argüello, na qual os instava a “intensificar a oração e os esforços em prol da paz”.

Destaque, em particular, a adesão à iniciativa por parte do Vicariato Apostólico da Arábia Meridional, que inclui o Iêmen, devastado por uma guerra civil “esquecida” há mais de 10 anos. “Pelo jejum e a oração, peçamos à Virgem Maria, Rainha da Paz, que interceda junto ao seu Filho pela paz, especialmente na vizinha Terra Santa, e pela consolação de todos os aflitos por este e por todos os conflitos”, declarou o vigário apostólico Paolo Martinelli.

O Custódio da Terra Santa, Pe. Francesco Ielpo, em carta dirigida aos frades franciscanos, enfatizou que “a paz é um dom há muito esperado e profundamente desejado, especialmente na Terra Santa, marcada por conflitos e esperanças”. “Rezemos para que a comunidade internacional não fique apenas assistindo, mas intervenha para promover a paz, o respeito ao direito internacional e a segurança de civis, trabalhadores humanitários e jornalistas”, acrescentou.

Necessária uma mudança de perspectiva

Embora o convite do Papa Leão XIV tenha sido amplamente aceito pelas Igrejas, a necessidade de uma “mudança de passo” nos níveis político e diplomático continua premente. O mundo está dilacerado por uma “Terceira Guerra Mundial em pedaços”, que no ano passado já elevou os gastos com armas a um recorde de US$ 2,718 bilhões.

O presidente da CNBB exortou os irmãos no episcopado a organizar e incentivar o Dia de Oração e Jejum pela Paz, encontrando “formas mais adequadas de animar o povo de Deus”. São …

Há três anos e meio, com a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, a Europa mergulhou novamente no pesadelo de uma guerra sangrenta, como não se via no coração do continente desde as guerras dos Balcãs. Nas periferias da Europa, por outro lado, pode-se avançar rumo a um acordo de paz histórico entre a Armênia e o Azerbaijão, que poderia pôr fim a mais de 30 anos de derramamento de sangue e mal-entendidos.

Em Gaza, após o ataque brutal do Hamas em 7 de outubro de 2023, uma tragédia humanitária sem precedentes em nosso século se desenrola diante dos olhos de todos. Enquanto isso, na Cisjordânia, os planos mais recentes do governo israelense nos recordam dos perigos de questões que permaneceram sem solução por muitos anos. Isso também se aplica ao Líbano, onde, após a guerra do outono passado, cenários mais sombrios parecem ter sido evitados; enquanto a vizinha Síria vive um momento importante e delicado, passando por mudanças históricas após a queda de Bashar al-Assad.

Conflitos não resolvidos em todos os continentes

A África continua sendo um dos continentes com o maior número de conflitos. A começar pelo Sudão, onde, desde abril de 2023, a disputa pelo poder entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) produziu o que a ONU chamou de a pior crise de deslocados do mundo, com 14 milhões de pessoas forçadas a fugir de suas casas. Mas há muitos outros focos de guerra no continente: desde o leste da República Democrática do Congo, onde centenas de grupos armados saqueiam os recursos do país há anos, semeando derramamento de sangue e instabilidade, até o norte de Moçambique e os muitos países do Sahel, onde a violência jihadista grassa, passando pela Etiópia, Somália e até mesmo a Líbia, dividida por mais uma guerra “esquecida”.

Conflitos também não faltam na Ásia. Em Mianmar, há mais de quatro anos se arrasta um conflito brutal, opondo a junta militar governante a grupos rebeldes que agora controlam grande parte do país. A Península Coreana permanece dividida e assolada por ventos de guerra ancorados na lógica da dissuasão nuclear; enquanto a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão também é palco de um conflito que se arrasta há muito tempo, longe dos holofotes.

A Oceania não é exceção, onde, em Papua-Nova Guiné, a violência tribal, que nunca diminuiu, ocasionalmente ressurge. A América Latina, talvez menos marcada pela guerra aberta, ainda assim ostenta muitos países onde o crime e a violência ainda reinam. A começar pelo Haiti, o país mais pobre das Américas, onde quase 80% do território está sob o controle de gangues criminosas, diante da impotência do governo e da comunidade internacional.

O Caminho do Perdão para chegar à paz

Tantos conflitos, tantas questões não resolvidas, todas tendo em comum o sofrimento que geram entre os civis, especialmente entre os mais vulneráveis. O mundo, como indicou o Papa Leão XIV, precisa urgentemente de uma mudança de perspectiva, porque “sem perdão nunca haverá paz”. “O verdadeiro perdão não espera o arrependimento, mas é oferecido primeiro”, explicou o pontífice na Audiência Geral da última quarta-feira na Sala Paulo VI, observando que “perdoar não significa negar o mal, mas impedir que ele gere mais mal”.

Fonte: Vatican News.

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