Ao receber o Conselho dos Jovens do Mediterrâneo, no Vaticano, o Papa convidou os jovens a serem “sinal de uma geração que não aceita acriticamente o que acontece, que não se vira para o outro lado, que não espera que seja o outro que dê o primeiro passo; sinal de uma juventude que imagina um futuro melhor e que escolheu construí-lo; sinal de um mundo que não se rende à indiferença e ao habitual, mas compromete-se e trabalha para transformar o mal em bem”.
Mariangela Jaguraba – Vatican News
O Papa Leão XIV recebeu em audiência, nesta sexta-feira (05/09), na Sala do Consistório, no Vaticano, cerca de quarenta membros do Conselho dos Jovens do Mediterrâneo, acompanhados pelo secretário-geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), dom Giuseppe Andrea Salvatore Baturi, arcebispo de Cagliari.
Esses jovens vieram de vários países, têm línguas e culturas diferentes, mas “estão unidos por um único grande desejo: a convivência pacífica dos povos, em especial daqueles que habitam ao redor do Mediterrâneo”, disse Leão XIV em seu discurso.
O diálogo é possível
O Papa recordou que “o Conselho dos Jovens do Mediterrâneo é um dos frutos do percurso de reflexão e espiritualidade promovido pela Conferência Episcopal Italiana, que teve dois momentos-chave: o de Bari, em 2020, e o de Florença, em 2022”. “Estes eventos reuniram os bispos de alguns países da região mediterrânea, na consciência de que o mare nostrum pode e deve ser um lugar de encontro, espaço de fraternidade e berço de vida, não um túmulo para os mortos. Espero que estas experiências promovidas pelas Igrejas na Itália possam continuar como sinais de esperança”, sublinhou.
Leão XIV agradeceu aos jovens pelos projetos que realizam em suas comunidades e no âmbito europeu, em diálogo com instituições eclesiais e políticas. Segundo o Pontífice, isso é “uma demonstração de que o diálogo é possível, que as diferenças são fonte de riqueza e não motivo de oposição, que o outro é sempre um irmão e nunca um estranho ou, pior ainda, um inimigo“.
Os jovens são o presente da esperança
A seguir, o Papa recordou o prefeito Giorgio La Pira, “cujo pensamento inspirou as iniciativas de Bari e Florença”. Ele “estava convencido de que a paz na região do Mediterrâneo seria o início e quase o fundamento da paz entre todas as nações do mundo”.
“Esta visão mantém hoje toda a sua força e o seu caráter profético, numa época dilacerada por conflitos e violência, onde a corrida ao armamento e a lógica da opressão prevalecem sobre o direito internacional e o bem comum. Mas não devemos desanimar, não devemos nos resignar! Vocês, jovens, podem dar uma contribuição fundamental com os seus sonhos e a sua criatividade. Hoje, e não amanhã! Porque vocês são o presente da esperança!”
A paz muitas vezes reduzida a um slogan
De acordo com Leão XIV, o Conselho dos Jovens do Mediterrâneo “é realmente uma obra e um sinal“. “A obra é aquela que o Papa Francisco confiou às Igrejas do Mediterrâneo: «Reconstruir os laços que foram interrompidos, levantar as cidades destruídas pela violência, fazer florir um jardim onde hoje existem terrenos áridos, incutir esperança em quem a perdeu e exortar quem está fechado em si mesmo a não temer o irmão»”.
“O sinal, queridos amigos, são vocês“, disse o Papa. “Sinal de uma geração que não aceita acriticamente o que acontece, que não se vira para o outro lado, que não espera que seja o outro que dê o primeiro passo; sinal de uma juventude que imagina um futuro melhor e que escolheu construí-lo; sinal de um mundo que não se rende à indiferença e ao habitual, mas compromete-se e trabalha para transformar o mal em bem“, sublinhou.
“A paz está sobre a mesa dos líderes das nações e é objeto de discussões globais, mas, infelizmente, muitas vezes é reduzida a um slogan. Ao invés disso, precisamos cultivar a paz nos nossos corações e nas nossas relações, fazê-la florescer nos gestos quotidianos, ser promotores de reconciliação nas nossas casas, nas comunidades, nos ambientes de estudo e de trabalho, na Igreja e entre as Igrejas. «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus». Não é uma escolha fácil: faz-nos sair das nossas zonas de conforto, distração e indiferença, e pode suscitar a oposição dos que têm interesse em perpetuar os conflitos.”
Ser sementes de paz
O Papa exortou os jovens a continuarem sendo “sinais de esperança, aquela que, enraizada no amor de Cristo, não engana”. “Ser sinais de Cristo significa ser suas testemunhas, anunciadores do seu Evangelho”, disse ainda Leão XIV, recordando que “o patrimônio de espiritualidade das grandes tradições religiosas nascidas no Mediterrâneo pode continuar sendo fermento vivo nesta área e além dela, fonte de paz, de abertura ao outro, de cuidado pela criação e de fraternidade”.
“Essas mesmas religiões foram e, por vezes, ainda são instrumentalizadas para justificar a violência e a luta armada: devemos refutar com a nossa vida essas formas de blasfêmia, que obscurecem o Santo Nome de Deus. Por isso, juntos com a ação, cultivem a oração e a espiritualidade como fontes de paz e linguagens de encontro entre tradições e culturas.”
“Não tenham medo“, disse ainda Leão XIV aos jovens. “Sejam sementes de paz ali onde cresce a semente do ódio e do ressentimento; sejam tecelões de unidade ali onde prevalecem a polarização e a inimizade; sejam voz de quem não tem voz para pedir justiça e dignidade; sejam sal e luz ali onde se está extinguindo a chama da fé e o sabor da vida. Não desistam se alguém não os compreende“, concluiu Leão XIV, recordando que “São Charles de Foucauld dizia que Deus também se serve dos ventos contrários para nos conduzir ao porto”.