Encontro dos bispos da Amazônia é concluído, em Bogotá, com chamado a cuidar dos povos e do bioma
Um encontro histórico reuniu mais de 90 bispos de 76 circunscrições eclesiásticas da Pan-Amazônia, entre os dias 17 e 20 de agosto, em Bogotá, na Colômbia. O evento foi voltado para a reflexão sobre os desafios pastorais, sociais e ambientais da região. Do Brasil, participaram 47 prelados, os quais estão à frente de arquidioceses, dioceses e prelazias nos regionais Norte 1, 2 e 3, Noroeste 3, Nordeste 5 e Oeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Realizado na sede do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), o encontro reuniu ainda representantes da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), entre líderes indígenas, religiosos e religiosas, e cristãos leigos. Os debates apontaram como eixos centrais da ação da Igreja na Amazônia a sinodalidade, a defesa dos povos originários, o cuidado do bioma e o compromisso da Igreja em acompanhar a vida no território considerado decisivo para o planeta.
Renovação do compromisso
O cardeal Pedro Barreto, arcebispo emérito de Huancayo, no Peru, e presidente da Ceama, afirmou que o encontro “renovou o compromisso de anunciar o Evangelho em diálogo com as culturas originárias, ao tempo que enfrenta os efeitos das mudanças climáticas e o desmatamento”.
Ouvir o bioma e os povos
A líder indígena Patricia Gualinga Montalvo, vice-presidente da Ceama, destacou que esta assembleia foi uma experiência de sinodalidade, onde os bispos puderam ouvir a voz do bioma amazônico e de seus povos. Ela mencionou que as ameaças diárias aos territórios ancestrais — como o desmatamento, a criminalização e as violações dos direitos humanos — continuam afetando de forma permanente não apenas as comunidades, mas toda a humanidade.
Ela também alertou que a Amazônia se encontra atualmente em um ponto de não retorno devido à crise climática provocada pelo próprio ser humano, o que exige respostas urgentes da Igreja e da sociedade. Para ela, o encontro permitiu descobrir realidades comuns e, ao mesmo tempo, a grande diversidade do bioma, motivando a caminhar juntos na defesa da vida e na evangelização inculturada.
Amazônia, um dom de Deus
O encontro teve a participação do prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cardeal Michael Czerny. Ele parabenizou a Ceama pela iniciativa do encontro e recordou que a Igreja já articula há mais de dez anos uma resposta comum aos desafios amazônicos, começando com seus povos e estendendo-se à defesa da natureza.
Ele também observou que os dias de encontro serviram como um momento de amadurecimento para a Conferência Eclesial, que se consolida como um organismo a serviço do povo de Deus na Amazônia. Czerny manifestou seu desejo de que os frutos se tornem visíveis na vida das comunidades e que os meios de comunicação possam multiplicar esse desejo e reconhecer como a Igreja continua acompanhando o grande dom de Deus que é este bioma.
A sinodalidade como sinal de esperança
Dom Zenildo Lima da Silva | Foto: Celam
Bispo brasileiro na presidência da Ceama, dom Zenildo Lima da Silva é bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus (AM) e vice-presidente do organismo regional. Para ele, o encontro foi um grande sinal de esperança em meio a um contexto marcado pela violência e pela exploração do território. Ele ressaltou que a Igreja percorreu um caminho de novas relações de cuidado e proximidade, onde a sinodalidade é vivida de forma concreta nas dioceses, prelazias e vicariatos.
Além disso, destacou que os bispos trouxeram consigo os testemunhos de suas igrejas locais, confirmando que o Sínodo para a Amazônia de 2019 continua sendo uma realidade viva. Ele afirmou que, apesar dos grandes desafios, a experiência do encontro trouxe a convicção de que a Igreja amazônica é forte e capaz de oferecer sinais de novidade, consolo e alegria para seus povos.
Outras partilhas dos bispos do Brasil
Foi um momento de sinodalidade onde reafirmamos o valor de dar continuidade ao Sínodo para a Amazônia. Os ritos da Amazônia ganharam destaque, e ficou claro como, enquanto Igreja, podemos realizar muito mais estando juntos. Este é o nosso compromisso, e contamos com a participação de toda a Igreja para que isso se concretize”.
A Igreja atua na Amazônia em meio a um contexto maravilhoso de vida, povos, culturas e nações, mas também enfrenta problemas como a devastação florestal, a questão mineral, a pobreza e desafios pastorais, como a carência de sacerdotes, a questão vocacional, o protagonismo dos leigos e a importância da presença da mulher na catequese. Todos esses assuntos e desafios foram abordados aqui, tanto na plenária quanto nos grupos. Saímos daqui felizes, sabendo que a Igreja Católica na Amazônia é significativa e quer cada vez mais abraçar o compromisso de Jesus ‘Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância’. Que possamos crescer na sinodalidade, na comunhão e na ação conjunta em todas as nossas igrejas, lutando pela promoção do Reino de Deus nesta nossa querida Amazônia”.
Esse encontro é muito importante. A Ceama recolhe a vida das Igrejas Particulares que estão na Pan-Amazônia. Reunir os bispos é reunir as dioceses. A reflexão dos bispos quer ajudar a Ceama a ser profundamente encarnada na realidade amazônica e estar a serviço das Igrejas Particulares, de todas as nossas comunidades católicas que estão na Pan-Amazônia. É muito importante porque visa também [refletir] como podemos, entre nós dioceses, nos ajudar a, cada vez mais, sermos uma Igreja sinodal, encarnada e libertadora.
Cardeal Leonardo Steiner Arcebispo de Manaus Presidente do Regional Norte 1
Um encontro fraterno, acolhedor e muito enriquecedor por causa das experiências que são vivenciadas nos diversos países. Além disso, estamos vendo quais são os avanços que as nossas Igrejas Particulares estão conquistando, e ao mesmo tempo os desafios, as dificuldades, as resistências a essa inculturação, a esse novo jeito de ser Igreja e, sobretudo, a essa espiritualidade dessa Igreja em Saída.