
Na primeira parte do texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano o livro trata em profundidade sobre o serviço da Igreja institucional à sociedade brasileira. Enfatiza o modo pelo qual a Igreja dialoga com a sociedade em geral. É o serviço cooperativo a favor da verdade, da justiça e da fraternidade em vista do bem comum. Para efeituar isso, a Igreja conta com a parceria de instituições e organizações sociais, bem como de pessoas de boa vontade. A Igreja no Brasil está servindo os mais necessitados, educando crianças pobres nos orfanatos, atendendo doentes pobres nas Santas Casas de Misericórdia, nos hospitais dirigidos por religiosos/as, nas Conferências Vicentinas, nas clínicas para recuperar pessoas viciados em drogas, nos colégios religiosos etc. A Igreja imitando seu Fundador está servindo também através das pastorais, como por exemplo, a pastoral do idoso, a pastoral da criança, carcerária, da saúde, do menor, dos pescadores, do povo de rua, entre outras. Há cristãos, seguindo o exemplo de Jesus, está servindo numa variedade de situações de marginalização, exclusão e injustiça. No meio urbano encontramos cristãos trabalhando com os moradores de rua, às mulheres marginalizadas, o solo urbano, os Direitos Humanos e o mundo de trabalho etc. A Igreja também tem as pastorais trabalhando com nossos irmãos e irmãs indígenas, quilombolas, ciganos, afrodescendentes, pescadores e migrantes, tentando servir de melhor maneira possível essas entidades.
Todo este esforço em servir os outros é por causa do exemplo e das palavras de Jesus. Jesus nunca se apresentou como quem queria prestígio, mas como servidor. O lema da campanha deste ano não podia ser mais claro: “Eu vim para servir”. Na bíblia encontramos Jesus curando e servindo pessoas com todo tipo de doenças. Porém, talvez o texto bíblico onde Jesus expressa mais claramente o que Ele quer dos seus discípulos/as encontramos em São Marcos 10, 42-45. Naquele texto Tiago e João, filhos de Zebedeu, separam-se do grupo e se aproximam, só eles dois, de Jesus. Eles disseram: “Permite que nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda, na tua glória”. Jesus disse “Não sabeis o que pedis”. Não entenderam nada do que Jesus dizia. Jesus então lhes ensina que tais pretensões cabem aos poderosos deste mundo, mas não têm vez no Reino de Deus. Então Jesus os chamou e disse lhes: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em regate por muitos”. A ambição sempre divide e confronta os discípulos/as de Jesus. A busca de honras e de protagonismos interesseiros rompe a comunhão da comunidade cristã. O fato é tão grave que Jesus reúne seus discípulos para deixar claro qual é a atitude que deve caracterizar seus seguidores. Ele disse: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois, quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Essa lógica de serviço coloca a religião como instrumento de construção de uma nova sociedade.
A grandeza não se mede pelo poder que tem, pela posição que se ocupa ou pelos títulos que se ostentam. Quem ambiciona estas coisas na Igreja de Jesus não se torna grande, e sim mais insignificante e até ridículo. Na realidade é um estorvo na promoção do estilo de vida desejado pelo Crucificado. Falta-lhe um traço básico para ser seguidor de Jesus: servir. Na Igreja todos nós precisamos ser servidores. Precisamos colocar-nos na comunidade cristã não a partir de cima, a partir da superioridade, do poder ou do protagonismo interesseiro, mas a partir de baixo, a partir da disponibilidade, a partir do serviço e da ajuda aos outros. Nosso exemplo tem que ser Jesus. Ele não viveu nunca “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor e mais admirável resumo do que foi sua vida.
A busca de poder e privilégios dentro seus discípulos preocupou Jesus. Contra os hábitos instaurados na vida do homem, Jesus, com estas palavras, provocadas por um pedido de seus discípulos, declara decididamente o novo modo de entender os relacionamentos humanos e particularmente, o sentido da autoridade. Nasce daí uma grande lição de Jesus. Os cristãos não são pessoas que se realizam através do poder, como também não devem ser servis diante dos homens. Devem ser livres em nome de Deus, e considerar o exercício da autoridade como um serviço ao próximo. Conforme o ensinamento de Cristo, na vida política como na vida de família, na social como na particular, o cristão não pode ser dominado pela ambição. Ele é alguém que, à imitação de Cristo, coloca-se à disposição do bem dos outros, procurando servir de modo evangélico, com profundo amor, assim como Cristo, que “veio para servir”.
Pe. Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Regional Nordeste I