
Visita histórica de Leão XIV ao túmulo de São Charbel, santo moldado pelo Espírito Santo “para que ensinasse a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas. São todos comportamentos que vão contra a corrente, mas é justamente por isso que nos atraem, como água fresca e pura para quem caminha no deserto”.
Bianca Fraccalvieri, de Beirute
O segundo dia de Leão XIV no Líbano representa o coração espiritual da viagem. O dia começou com a oração diante do túmulo de São Charbel Maklūf.
Sacerdote maronita e eremita, é um dos santos mais amados de todo o Oriente Médio, respeitado até mesmo por quem não é cristão. Símbolo da santidade ascética, viveu no Mosteiro de São Maroun, onde está sepultado, e é conhecido pelos muitos milagres atribuídos à sua intercessão após sua morte, especialmente pela cura dos doentes.
É interessante notar que num país de um cristianismo tão antigo, que remonta à passagem do Apóstolo Paulo nestas terras, os fiéis nutram esta devoção a um santo relativamente recente, que nasceu em 1828 e morreu em 1875, sendo beatificado e canonizado no pontificado de São Paulo VI. Aliás, este ano, celebram-se 100 anos desde que a abertura do processo.

Visitar este local é uma experiência única, primeiramente pela localização, entre as montanhas fora de Beirute, a 1200 metros de altitude, com neve no inverno. Cercado de cedros, o eremitério de pedras é o mais austero possível. Mas o que realmente impressiona é a sua cela: um tecido no chão e um tronco de madeira como travesseiro.
A sua figura, portanto, está ligada ao sofrimento silencioso e à renúncia à mundanidade, temas significativos para um Líbano em crise. A atmosfera é singular e muitos fiéis não contêm a emoção ao visitar santuário.
A oração de Leão XIV é histórica: é a primeira vez de um Papa e é um gesto de homenagem à profunda fé e esperança que perdura mesmo nas piores tribulações.
“O que São Charbel nos ensina hoje?”, questionou o Pontífice, que assim respondeu: “O Espírito Santo moldou-o para que ensinasse a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas. São todos comportamentos que vão contra a corrente, mas é justamente por isso que nos atraem, como água fresca e pura para quem caminha no deserto”.
Para a Igreja, o Pontífice pediu comunhão e unidade. Para o mundo, a paz.
“Imploramos a paz especialmente para o Líbano e para todo o Levante. Mas sabemos bem que não há paz sem conversão dos corações. Por isso, que São Charbel nos ajude a dirigir-nos a Deus e a pedir o dom da conversão para todos nós.”

Eis a prece pronunciada pelo Santo Padre:
Ó Deus, que concedeste a São Charbel,
guardião do silêncio na vida escondida,
ser iluminado pela luz da verdade
para sondar as profundezas do teu amor,
concede-nos, que seguindo o seu exemplo,
enfrentar no deserto do mundo o bom combate da fé
e caminhar alegremente
seguindo o teu Filho, Jesus Cristo.
Que o teu servo,
que viveu no segredo da oração
e venceu as tentações
com as armas da penitência,
nos mostre a grandeza da tua misericórdia,
que nos ensine o silêncio das palavras
e a força dos gestos que podem abrir o coração.
Que ele nos obtenha de Jesus Cristo,
que nos libertou de todo o mal,
a saúde do corpo e do espírito,
e interceda sempre por nós,
a fim de que possamos participar com os santos
no Reino eterno.
A ti a glória e o louvor,
Pai, Filho e Espírito Santo.
Amém
Fonte: Vatican news.