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[Editorial – Janeiro 2015] “No Ano da Caridade, a construção da Paz.”

No Ano da Caridade, a construção da Paz.”

Iniciamos 2015 sob o sinal da Caridade na construção da Paz. Para nós na Arquidiocese de Fortaleza será este o Ano da Caridade, terceiro ano no triênio na celebração do Jubileu Centenário da Arquidiocese. Para toda a humanidade, nos votos e mensagem do Papa Francisco, a Paz se constrói com a Fraternidade, fundamento e caminho para a Paz: por isto o lema: “Já não escravos, mas irmãos”.

Em sua mensagem para a celebração do 48º Dia Mundial da Paz assim fundamenta com simplicidade direta o Papa Francisco (recomendamos sua completa leitura): “2. O tema, que escolhi para esta mensagem, inspira-se na Carta de São Paulo a Filemon; nela, o Apóstolo pede ao seu colaborador para acolher Onésimo, que antes era escravo do próprio Filemon, mas agora se tornou cristão, merecendo por isso mesmo, segundo Paulo, ser considerado um irmão. Escreve o Apóstolo dos gentios: «Ele foi afastado por breve tempo, a fim de que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo, como irmão querido» (Flm 15-16). Tornando-se cristão, Onésimo passou a ser irmão de Filemon. Deste modo, a conversão a Cristo, o início duma vida de discipulado em Cristo constitui um novo nascimento (cf. 2 Cor 5, 17; 1 Ped 1, 3), que regenera a fraternidade como vínculo fundante da vida familiar e alicerce da vida social.”

É da constatação de que: “Infelizmente, o flagelo generalizado da exploração do homem pelo homem fere gravemente a vida de comunhão e a vocação a tecer relações interpessoais marcadas pelo respeito, a justiça e a caridade.” “Infelizmente, entre a primeira criação narrada no livro do Gênesis e o novo nascimento em Cristo – que torna, os crentes, irmãos e irmãs do «primogênito de muitos irmãos» (Rom 8, 29) –, existe a realidade negativa do pecado, que interrompe tantas vezes a nossa fraternidade de criaturas e deforma continuamente a beleza e nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro fratricídio. «O assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gen 4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros».[2]”

Esta infelicidade humana tem entre tantas causas uma fundamental: “4. Hoje como ontem, na raiz da escravatura, está uma concepção da pessoa humana que admite a possibilidade de tratá-la como um objeto. Quando o pecado corrompe o coração do homem e o afasta do seu Criador e dos seus semelhantes, estes deixam de serem sentidos como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, passando a ser vistos como objetos. Com a força, o engano, a coação física ou psicológica, a pessoa humana – criada à imagem e semelhança de Deus – é privada da liberdade, mercantilizada, reduzida a propriedade de alguém; é tratada como meio, e não como fim.”

E diante de tantas faces da escravidão (ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura) a que são submetidas por outras suas semelhantes, que são suas irmãs, a que somos todos chamados senão ao reconhecimento real da filiação comum de um único Pai, da irmandade comum no Cristo Senhor, o Filho de Deus que se fez Filho do Homem e Irmão de toda pessoa humana para nos unir em comunhão de vida e dignidade em toda a humanidade no único Amor que é o próprio Deus?

O Santo Padre o Papa Francisco convida a todos a “globalizar a fraternidade, não a escravidão nem a indiferença”, com atitudes pessoais, comunitárias em gestos concretos que vão muito além de qualquer retórica: “Nesta perspectiva, desejo convidar cada um, segundo a respectiva missão e responsabilidades particulares, a realizar gestos de fraternidade a bem de quantos são mantidos em estado de servidão. Perguntemo-nos, enquanto comunidade e indivíduo, como nos sentimos interpelados quando, na vida quotidiana, nos encontramos ou lidamos com pessoas que poderiam ser vítimas do tráfico de seres humanos ou, quando temos de comprar, se escolhemos produtos que poderiam razoavelmente resultar da exploração de outras pessoas. Há alguns de nós que, por indiferença, porque distraídos com as preocupações diárias, ou por razões econômicas, fecham os olhos. Outros, pelo contrário, optam por fazer algo de positivo, comprometendo-se nas associações da sociedade civil ou praticando no dia-a-dia pequenos gestos como dirigir uma palavra, trocar um cumprimento, dizer «bom dia» ou oferecer um sorriso; estes gestos, que têm imenso valor e não nos custam nada, podem dar esperança, abrir estradas, mudar a vida a uma pessoa que tateia na invisibilidade e mudar também a nossa vida face a esta realidade.”

“Temos de reconhecer que estamos perante um fenómeno mundial que excede as competências de uma única comunidade ou nação. Para vencê-lo, é preciso uma mobilização de dimensões comparáveis às do próprio fenômeno. Por esta razão, lanço um veemente apelo a todos os homens e mulheres de boa vontade e a quantos, mesmo nos mais altos níveis das instituições, são testemunhas, de perto ou de longe, do flagelo da escravidão contemporânea, para que não se tornem cúmplices deste mal, não afastem o olhar à vista dos sofrimentos de seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e dignidade, mas tenham a coragem de tocar a carne sofredora de Cristo,[12] o Qual Se torna visível através dos rostos inumeráveis daqueles a quem Ele mesmo chama os «meus irmãos mais pequeninos» (Mt 25, 40.45)

E neste ANO DA CARIDADE, em que nos reconhecemos “Levados pela Caridade de Cristo”(2 Cor 5, 14), reconhecemos que desde as: “origens da família humana, o pecado de afastamento de Deus, da figura do pai e do irmão torna-se uma expressão da recusa da comunhão e traduz-se na cultura da servidão (cf. Gen 9, 25-27), com as consequências daí resultantes que se prolongam de geração em geração: rejeição do outro, maus-tratos às pessoas, violação da dignidade e dos direitos fundamentais, institucionalização de desigualdades. Daqui se vê a necessidade duma conversão contínua à Aliança levada à perfeição pela oblação de Cristo na cruz, confiantes de que, «onde abundou o pecado, superabundou a graça (…) por Jesus Cristo» (Rom 5, 20.21). Ele, o Filho amado (cf. Mt 3, 17), veio para revelar o amor do Pai pela humanidade. Todo aquele que escuta o Evangelho e acolhe o seu apelo à conversão, torna-se, para Jesus, «irmão, irmã e mãe» (Mt 12, 50) e, consequentemente, filho adotivo de seu Pai (cf. Ef 1, 5). No entanto, os seres humanos não se tornam cristãos, filhos do Pai e irmãos em Cristo por imposição divina, isto é, sem o exercício da liberdade pessoal, sem se converterem livremente a Cristo. Ser filho de Deus requer que primeiro se abrace o imperativo da conversão: «Convertei-vos – dizia Pedro no dia de Pentecostes – e peça cada um o batismo em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados; recebereis, então, o dom do Espírito Santo» (At 2, 38). Todos aqueles que responderam com a fé e a vida àquela pregação de Pedro, entraram na fraternidade da primeira comunidade cristã (cf. 1 Ped 2, 17; At 1, 15.16; 6, 3; 15, 23): judeus e gregos, escravos e homens livres (cf. 1 Cor 12, 13; Gal 3, 28), cuja diversidade de origem e estado social não diminui a dignidade de cada um, nem exclui ninguém do povo de Deus. Por isso, a comunidade cristã é o lugar da comunhão vivida no amor entre os irmãos (cf. Rom 12, 10; 1 Tes 4, 9; Heb 13, 1; 1 Ped 1, 22; 2 Ped 1, 7). Tudo isto prova como a Boa Nova de Jesus Cristo – por meio de Quem Deus «renova todas as coisas» (Ap 21, 5)[3] – é capaz de redimir também as relações entre os homens, incluindo a relação entre um escravo e o seu senhor, pondo em evidência aquilo que ambos têm em comum: a filiação adotiva e o vínculo de fraternidade em Cristo. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15).

 “No Ano da Caridade, (faremos) a construção da Paz”, vivendo a nossa filiação de Deus e a nossa fraternidade com os irmãos.

 Este Novo Ano, que a bondade infinita de Deus nos dá, seja guiado pela Palavra onipotente  que se fez carne impotente e mortal para nos guiar à imortalidade.

Que brilhe a Luz que ilumina todo homem vindo a este mundo, para que seus dias sejam cheios do Amor, da Paz e da Felicidade que agora prenunciam na História a Feliz Eternidade da qual nos faz participantes o Filho de Deus feito nosso Irmão.

Começamos o Novo Ano sob a proteção da Santa Mãe de Deus, Maria, que trouxe no seio virginal o Filho do Pai Eterno – o Príncipe da Paz: nEle nós somos “Já não escravos, mas irmãos” para sempre.

Feliz e Abençoado Ano do Senhor 2015.

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques
Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

Uma resposta

  1. Hoje todos os paroquianos da praia da Caponga estão se sentindo órfão pela forma de como nos foi tirado nosso pároco Padre Josieldo. Não me conformo e não entendo porque a igreja ,que somos nós, não podemos nos manifestar diante de tamanha falta de humanidade, pois arrancar dos braços de uma mãe um filho prematuramente como nos foi tirado nosso Padre com apenas 2 anos de trabalho, não é justo.Compreendo e entendo que Padre Josieldo com sua inteligencia deve trilhar outros caminhos, mas o Senhor Bispo deveria ter esperado ele completar sua missão aqui na Caponga. Uma comunidade carente de fé, vulnerável as coisas mundanas. Desculpem-me as palavras duras mas não estava aguentando. Precisava mostrar a minha comunidade minha indignação a essa situação.

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