Semana Santa – a Via Dolorosa que leva à via triunfante

Via Sacra no Coliseu.  (Vatican Media)

“Na Perspectiva Cristã, o sofrimento assume uma conotação salvífica, se for acolhido e vivido como participação da paixão e morte de Cristo, que redimiu a humanidade, oferecendo-se como vítima pura e imaculada no altar da Cruz.”

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

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“A Via Sacra é para nós uma escola de vida cristã. Jesus cai e se levanta novamente. Ele suporta a sua solidão. E perdoa… A Via Sacra é uma santa escola de vida”, recordou o cardeal eslovaco Ján Chryzostom Korec, falecido em 24 de outubro 2015. “A Via Sacra de Jesus – acrescentou ele – foi a primeira, mas não foi a última. Mesmo a vida de cada um de nós, se for uma vida no seguimento de Cristo, é também um seguimento da sua Via Sacra. A Igreja não esqueceu a Via Sacra nem mesmo na sua liturgia. Os crentes retornam continuamente a ela com fé desde os séculos passados ​​até hoje, do Coliseu Romano à capela mais pobre das nossas paróquias”.

Para os cristãos, a Semana Santa – também chamada de “Semana Maior” ou a “Grande Semana” – é a semana que precede a Páscoa da Ressurreição e conclui o tempo de Quaresma. Nestes dias, celebramos desde a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém até a sua paixão, morte e ressurreição.

Na Sexta-feira da Paixão, participamos em particular da Via Sacra, que tem suas origens na piedade popular para com Cristo sofredor, e que se desenvolveu entre os séculos XII e XV. Esta devoção pretende evocar a peregrinação pela Via Dolorosa. “Semana Santa – a Via Dolorosa que leva à via triunfante” é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:

“Começamos, pelo Domingo de Ramos, a semana mais importante do cristão: a Semana Santa. A caminhada da Quaresma, pela escuta da Palavra, oração, jejum e caridade, nos preparou para celebrar melhor esse momento culminante, alcançando o mistério da paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. O Concílio Vaticano II apontou para a importância desse mistério Pascal, celebrado e atualizado em todas as liturgias.

O subsídio Cadernos do Concilio nos aponta, no fascículo de número 13, o destaque para a via-sacra como exercício de piedade com o qual os fiéis veneram a Paixão do Senhor, por ser uma das formas mais arraigadas e praticadas pelo Povo de Deus[1]. A Via-Sacra, também chamada de Via-Crucis, nasceu para recordar o doloroso caminho percorrido por Jesus na sua vida terrena, desde o momento em que Ele e os seus discípulos, “depois de cantar o hino, saíram do monte das Oliveiras (Mc 14,26) até o momento em que o Senhor foi conduzido ao “lugar chamado Gólgota”(Mc 15,22), ali, no lugar do crânio, onde foi crucificado e depois sepultado em um sepulcro novo escavado na rocha(Mc 15, 46). Esse subsídio encaminhado pelo Dicastério para a Evangelização, do autor Maurízio Barba, descreve-se ainda assim: “Uma caminhada penosa, cansativa e extremamente dolorosa, mas também marcada por encontros e olhares entre Cristo e seus amigos, inimigos ou pessoas que, como que por acaso, estavam naquele lugar e naquele momento, como o Cirineu. Nessa peregrinação, cujas fontes são os Evangelhos e a tradição popular das peregrinações à terra Santa, Cristo sofre e oferece a sua vida para redimir e salvar a humanidade”.

Diz ainda assim o texto em preparativa ao Ano Jubilar: “Da fusão de várias devoções surgidas na Idade Média, desenvolveu-se a Via-Crucis na sua forma atual: a devoção das quedas de Cristo sob a Cruz, a dos “caminhos dolorosos de Cristo” que consistia na Procissão de uma igreja a outra em memória dos caminhos de dor percorridos por Cristo durante a sua Paixão a das “estações de Cristo” ou seja dos momentos em que Jesus para no caminho rumo ao Calvário pelo cansaço e feridas e no encontro com várias pessoas ao longo de seu caminho de dor. Essa forma de Via-Sacra, preparada graças a devoção de São Bernardo de Claraval, de São Francisco de Assis e de São Bonaventura de Bagnoregio, se difundiu graças ao incansável empenho do frade menor São Leonardo de Porto Maurício, foi aprovada pela Sé Apostólica e enriquecida de indulgências. Atualmente configurada em 14 Estações, é testada na Espanha na primeira metade do século XVII, especialmente em meios franciscanos. Da Península Ibérica passou primeiro para a Sardenha, então sob o domínio da coroa espanhola, e depois para a península italiana”[2].

O texto desse caderno do Concílio é muito rico e significativo para essa Semana Santa que estamos vivenciando. Veja como diz o texto na página 17 deste caderno de número 13: “A prática do piedoso exercício da Via-Sacra e aumenta a espiritualidade Cristã, porque recorda muitas de suas características: a concepção da vida como caminho ou peregrinação; como passagem, pelo Mistério da Cruz, do exílio terreno à Pátria Celeste; o desejo de conformar-se profundamente com a paixão de Cristo; as exigências da sequela Christi (seguimento de Cristo), pela qual o discípulo deve caminhar atrás do mestre, carregando diariamente a própria cruz (cf. Lc 9,23). Se do ponto de vista artístico a iconografia da crucificação dos séculos XII e XIII passa da representação do Christus Triunfans (Cristo Triunfante) ao Cristus patiens (Cristo sofredor) do ponto de vista teológico, emerge a convicção de que “na cruz de Cristo só se realizou a redenção mediante o sofrimento, também o próprio sofrimento humano foi redimido” (Salvífici Doloris, n.19).

Na Perspectiva Cristã, o sofrimento assume uma conotação salvífica, se for acolhido e vivido como participação da paixão e morte de Cristo, que redimiu a humanidade, oferecendo-se como vítima pura e imaculada no altar da Cruz. Olhando, portanto, para o acontecimento histórico de Jesus de Nazaré, representado no momento culminante de sua dor, o Cristão sabe que o sofrimento e a morte são sinais proféticos, que se enchem de sentido precisamente graças ao Mistério Pascal de Cristo. Quando o sofrimento e a morte se fecham em si mesmos, levam ao desespero, mas se orientam para um horizonte de vida, abrem à esperança. E o horizonte é a vida eterna aquela vida inaugurada pelo Crucificado Ressuscitado, que ressuscita com o seu corpo glorioso, mas marcado ao mesmo tempo por aquelas “chagas” que, pela força do Espírito, se tornam “fendas” de luz e esperança”.

Está aí uma magnífica reflexão para a Semana SANTA, a semana mais importante do Cristão. Vale a pena a gente conferir esses textos importantes publicados pela CNBB na preparativa ao ANO JUBILAR.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cadernos do Concilio 13 – Jubileu 2025 – Os tempos fortes do Ano Litúrgico – Edições CNBB, 2023, p. 15.
[2] Idem, 16.

Fonte: Vatican News

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