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O grito dos povos indígenas no 13º Intereclesial das CEBs

Por Jaime C. Patias – Comunicação do  13º Intereclesial.

redimencionarNada tem sido mais dramático para os povos indígenas que a construção de estradas em seus territórios, o avanço das fronteiras agrícolas e a mineração. Pela estrada entra o invasor, as doenças, as bebidas alcoólicas, a violência, a prostituição… Presentes no 13º Intereclesial das CEBs em Juazeiro do Norte (CE), lideranças indígenas do Brasil representados pelas etnias Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe (Bahia), Xukuru-Kariri e Jeripancó (Alagoas), Potiguara (Paraíba), Xavante (Mato Grosso), Pankararú (Pernambuco), Kassupá e Wajoro (Rondônia), Xerente (Tocantins), Nukini e Nawa (Acre), Munduruku e Tembé (Pará), Tremembé e Pitaguari (Ceará) pedem maior agilidade na defesa de seus territórios e a preservação de suas culturas.

O evento que acontece entre os dias 7 e 11 de janeiro e tem como tema “Justiça e Profecia a serviço da Vida” e lema “CEBs romeiras do reino no campo e na cidade”, reúne cerca de 4 mil pessoas de todo o Brasil e convidados do exterior. Na análise de conjuntura social e eclesial, apresentada pelo padre Manfredo Oliveira, Raquel Rigotto e Roberto Malvezzi (Gogó), na manhã desta quarta, dia 8, a demarcação, homologação e ocupação das terras indígenas aparecem como grandes desafios.

Anastásio Peralta, liderança Guarani-Kaiowá veio de Dourados (MS), juntou-se ao grupo e assim resumiu o grito dos primeiros habitantes do Brasil. “Terra não é só pra cana, para boi ou cabrito. Terra é para todos nós. Terra é mãe e mãe é pra ser cuidada e os filhos também. A natureza não é pra ser explorada, mas admirada e cuidada. Aprendemos isso dos nossos antepassados e sabemos fazer”, afirmou. “Precisamos valorizar a nossa terra e a educação tradicional. A gente sabe que o agronegócio não vai servir pra ninguém por que mata de câncer. Precisamos mudar a cabeça dos nossos senadores, deputados e prefeitos”, destacou.

O cacique Valério Vera Gonçalves e sua esposa Ana Lúcia, também peregrinaram de Dourados a Juazeiro do Norte para reforçar a mesma reivindicação. “Queremos a demarcação da nossa terra. Ela é o nosso meio de sobrevivência que Deus deixou pra nós”. O cacique e pajé que vive com outros 13.500 indígenas na aldeia faz uma denúncia. “Os fazendeiros estão contra nós e querem matar índios como bichos, nos empurram para a beira das estradas onde somos atropelados”. Ano após ano multiplicam-se, em todo o Brasil, os acampamentos indígenas na beira das estradas. “Sentimos o apoio da Igreja que está a favor de nossa luta. Estou feliz por que este encontro das CEBs sempre lembra a demarcação das terras”, destaca Valério.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), há 40 anos acompanha e apoia os povos indígenas em todo o Brasil. Essa parceria é reconhecida pelas lideranças que, com a solidariedade de outros aliados retomam suas terras e garantem a preservação de suas culturas.

Inácio Tsererureme, liderança xavante da Terra Indígena Sangradouro localizada em General Carneiro (MT), a 300 km de Cuiabá, conta que já resolveram a questão da terra em 1974 quando ela foi demarcada com uma extensão de 198 mil hectares. Inácio é pai de 11 filhos e acha importante que os indígenas estudem a própria língua. “Quanto mais sabemos escrever e ler a nossa língua, mais fácil fica fazer a tradução para a língua portuguesa e vice versa”. Em Sangradouro existe uma Missão dos padres salesianos e os indígenas participam ativamente das comunidades. Para ele, as CEBs são importantes.

O jovem Raulivo Lobo dos Santos do povo Pancararu é agente administrativo numa escola na aldeia no município de Pacaratu (PE) e participa pela primeira vez de um Intereclesial das CEBs. Ele cursa matemática na Universidade Federal de Carauru e conta que, entre os pancararu, vários têm curso superior inclusive alguns são doutores e professores. “Demarcar nossas terras, melhorar a educação e saúde são as nossas principais reivindicações. Outra preocupação é preparar os jovens para a defesa das causas indígenas”, relata Raulivo.

O grito dos indígenas

As lideranças e seus aliados se prepararam para participarem do 13º Intereclesial das CEBs com um encontro na comunidade da Palmerinha, em Juazeiro do Norte, nos dias 05 a 07 de janeiro.povosindigenas400

Numa carta divulgada após esse encontro as liderançasrepudiam “a postura de submissão do governo brasileiro ao agro negócio”, e a política “anti-indígena do governo Dilma Rousseff sendo aquele que menos demarcou terras indígenas e o que mais avançou na restrição ou supressão dos direitos indígenas, por meio de decretos e portarias inconstitucionais: Portaria 419/2011, Portaria 303/2012, Decreto 7957/2013; PECs 215/2000, PEC 237/2013 e PEC 038/1999; PL 1610/1996 e PLP 227/2012. Todos esses instrumentos buscam inviabilizar e impedir o reconhecimento e a demarcação das terras indígenas, reabrir e rever procedimentos de demarcação de terras indígenas já finalizados; e facilitar a invasão, exploração e mercantilização dos territórios indígenas e suas riquezas”.

Em outro trecho a carta critica a insistência do governo, em “implementar e apoiar projetos grandiosos que agridem as comunidades indígenas, a exemplo da hidrelétricas de Belo Monte e do Rio Madeira, Transposição do Rio São Francisco, Ferrovia Trasnordestina, Usina de Teles Pires, Usinas Nucleares em terras indígenas, monocultivos de eucaliptos, sojas, canas, entre outros”. Para os indígenas isso demonstra “a real posição adotada por este governo assassino e destruidor das populações tradicionais”.

Além disso, o documento denuncia as perseguições e as violentas manifestações de agressão, racismo e preconceitos contra as comunidades indígenas e pede a solidariedade dos que acreditam em uma nova sociedade. “Solicitamos encarecidamente que as CEBs possam nos ajudar cumprindo sua função profética a partir da leitura do Evangelho e da prática de Jesus”.

Esses e outros gritos são ouvidos com frequências durante os debates na programação do 13º Intereclesial das CEBs.

Fonte: https://www.intereclesialcebs.org/full.php?id_noticia=278&noticia_cat=2

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