
Quais são as causas de stress no padre? Podemos citar as seguintes: (a) um desgaste físico com um padre tentando atender todas as exigências de uma paróquia; (b) a precária situação econômica para um contingente significativo de padres (preocupação com a saúde e aposentadoria etc); (c) a diminuição do prestígio e do status da vida religiosa; (d) a difícil convivência da religião com a secularização e laicismo da sociedade na Modernidade e Pós-Modernidade; (e) um desgaste intelectual com muitos padres impossibilitados de fazer cursos adequados de reciclagem, atualização ou novos cursos (por ex. mestrado, doutorado, ou psicologia etc.); (f) um esgotamento nervoso resultando em impaciência e desânimo causado pelo prolongado expediente de trabalho e intercâmbio diário com os paroquianos; (g) Um desgaste afetiva porque “Para o padre converge muita afetividade, excitação e até agressividade e ele, assim como outros profissionais, às vezes tem dificuldades em lidar com esta situação”; (h) certo tipo de isolamento, especialmente entre o clero diocesano trabalhando em paróquias no interior causando assim desânimo, com alguns poucos tornando adicionados ao alcoolismo, ao sexismo, compulsivos à internet ou televisão; (i) muitos trabalhos paroquiais que são enormemente burocráticos, repetitivos e freqüentemente estressantes em si, muitas vezes oferecendo pouco ou nenhum retorno de gratificação; (j) a vida celibatária exige muito do padre, e se ele não tem clareza e convicção de sua opção e de seu carisma ele terá uma vida estressante nesta área; (k) há desgastes na convivência institucional entre os padres, seus provinciais e seus bispos, e entre párocos e seus vigários paroquiais etc. (l) falta de tempo para viver sua vida espiritual adequadamente. (m) a vida do padre normalmente exige certo afastamento de sua família algo que em si gera tensão; (n) o êxito de fiéis da Igreja perante o mercado midiático do sagrado em que se multiplicam a cada dia inúmeras possibilidades diferentes de fé. (o) Há tensões entre padres que defendem diferentes linhas de ações pastorais, por exemplo, a opção preferencial pelos pobres, o ecumenismo, os movimentos carismáticos e midiáticos etc.
É fácil compreender como os itens citados, enfrentados durante certo tempo, possa se transformar em “burnout”. Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional prolongado, com predileção para profissionais que mantém uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda, como no caso do padre, médico, enfermeiro e psicólogo etc. A “Síndrome de Burnout” desenvolve-se lenta e silenciosamente por um longo período. Alguns autores consideram a “Síndrome de Burnout” diferente do estresse genérico. Estes consideram esse quadro de apatia extrema e desinteresse, não como sinônimo de algum tipo ou tipos de estresse, mas como uma de suas conseqüências bastante sérias. Os sinais de “burnout” tendem a ser mais de cunho mental do que físico, embora não exclui o físico. Podemos incluir aqui sentimentos de: fraqueza, impotência, desespero, exaustão emocional, insônia, ansiedade, desânimo, afastamento, irritabilidade, impaciência, frustração, sensação de fracasso, absenteísmo, culpabilidade, queda de produtividade, dificuldade de concentração, alterações de apetite, transtornos ansiosos, cinismo, apatia, solidão e tristeza, pânico, falta de perspectivos para o futuro, e em alguns casos bulimia e anorexia etc. Há padres também com depressão algo que não deve ser confundido com “burnout”.
O conceito “Burnout” foi usado pela primeira vez, em diagnóstico clínico, em 1974 pelo psicólogo Herbert J. Freudenberger no seu livro “Burnout: The High Cost of High Achievement” (Burn-out:o alto custo da alta performance). Freudenberger dividiu o processo de “burnout” em 12 estágios que podem se suceder, alternar-se ou, às vezes, ocorrer ao mesmo tempo. No seu excelente livro “Sofrimento dos Presbíteros: Dor Institucional”, Dr. William Cesar Castilho Pereira apresenta esses estágios assim: (1) Necessidade de se afirmar (ambição exagerada na profissão); (2) Dedicação intensificada (para se justificar a pessoa passa a fazer tudo sozinho); (3) Descaso com as próprias necessidades (a vida profissional ocupa quase todo o tempo); (4) Recalque de conflitos (não enfrenta a situação e o aparecimento dos primeiros problemas físicos); (5) Reinterpretação de valores (Isolamento dos amigos e passe tempos e negação das próprias necessidades. A autoestima é medida apenas pelo trabalho); (6) Negação de problemas (intolerância julga os outros incapazes, contados sociais evitados); (7) Recolhimento (a pessoa vive ensimesmada, alguns recorrem ao abuso ao álcool ou às drogas); (8) Mudanças evidentes de comportamento (apático e sensação de ser inútil); (9) Despersonalização (rompe o contato consigo mesmo, e a vida limita-se ao funcionamento mecânico)); (10) Vazio interior (Excede-se na vida sexual, na alimentação e no consumo de drogas ou álcool); (11) Depressão (A vida perde o seu sentido) e (12) Síndrome do esgotamento profissional (total colapso físico e psíquico). (Cf. op. cit. Editora Vozes, Petrópolis, 2012, ps. 28-30).
Como um padre pode superar o estresse e a “Síndrome de Burnout”? Padres que são psicólogos e psiquiatras afirmam que: (a) a primeira coisa é cultivar uma boa vida espiritual, organizando o dia para que houver tempo adequado para celebrar a missa sem pressa, rezar a “oração das horas”, ler a bíblia, fazer no mínimo meia hora de meditação, adquirir o costume de ler livros espirituais, e ter um diretor espiritual para o fórum interno; (b) O padre deve procurar um psicólogo ou um psiquiatra para acompanhá-lo durante este período difícil. Preferivelmente o acompanhante deve ser um psiquiatra que é médico e que pode receitar certas combinações de medicamento, como tranqüilizantes ou antidepressivos, para atenuar a ansiedade, tensão ou depressão. (c) a paróquia não deve ser centrada na pessoa do padre, mas a responsabilidade para o trabalho pastoral deve ser dividida entre os vários grupos de pastorais, especialmente os conselhos econômicos e pastorais; (d) alguns casos exigem a separação do contexto de onde originam as tensões (por exemplo, mudança de comunidade, ou transferência de paróquia etc.); (e) o padre deve ter um dia por semana para descanso preferivelmente fora da paróquia, e férias uma ou mais vezes por ano; (f) se o padre tiver graves problemas financeiros deve procurar orientação profissional, falar com seu bispo ou alguns colegas de paróquias mais abastadas (!); (g) o padre diocesano é aconselhado para tornar-se um contribuinte autônomo do INSS, pagando cada mês para que ele garantisse uma aposentadoria adequada na velhice; (h) o padre não deve se isolar do convívio dos irmãos no sacerdócio, amigos e paroquianos, mas cultivar essas amizades preciosas, especialmente entre seus irmãos padres; (i) se o padre tem problemas na dimensão humano-afetiva o psicólogo acompanhante pode orientá-lo e ajudá-lo nesta área, também ele deve pedir a orientação de um irmão padre de sua confiança; (j) ele deve tentar ficar atualizado participando de seminários, cursos de reciclagem e, em certos casos, pedindo a licença do bispo ou provincial para fazer cursos de mestrado ou doutorado em ciências religiosas ou psicologia etc.; (k) deve tomar cuidado de sua saúde física e mental visitando seu médico regularmente e seu psicólogo ocasionalmente; (l) neste tempo de crescente secularização numa sociedade materialista e de consumo, o padre deve refletir sobre a nobreza de sua vocação e os grandes valores cristãos que ela representa; (m) o padre deve realizar atividades de relaxamento, fazendo exercícios diários e mantendo uma dieta balanceada; (n) deve discutir seus problemas com colegas de profissão e seu bispo ou provincial; (o) em alguns casos o padre que precisa de medicamentos para superar o stress, “burnout” ou depressão (tranqüilizantes/calmantes/sedativos etc.) deve seguir rigorosamente a orientação do seu médico ou psiquiatra. Finalmente, os paroquianos podem diminuir o stress do padre apoiando o através de gestos solidários nos trabalhos pastorais.
Pe. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista, Assessor da CNBB.