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[ARTIGO] A paz, um compromisso diário

padregeovaneNo mundo atual, profundamente marcado pela ausência de paz, nos conflitos, guerras e derramamento de sangue, ouvimos gritos de dor e de sofrimento, num grande clamor de toda ordem e natureza. Jesus Nosso Senhor é aquele que se apresenta ao mundo, revelando-nos o projeto do Pai, oferecendo generosamente uma resposta às pessoas desejosas de paz, nas palavras de Francisco: “A paz é um compromisso diário. Ao vermos a Criança na manjedoura, nossos pensamentos se voltam àquelas crianças que são as vítimas mais vulneráveis das guerras, mas pensamos também nos idosos, nas mulheres, nos doentes. A guerra destrói e fere muitas vidas. Deus é paz: vamos pedir a Ele que nos ajude a sermos agentes da paz a cada dia, nas nossas vidas, nas nossas famílias, nas nossas cidades e nações, em todo o mundo”.

Ele está a dizer-nos algo que tem a endireitar, a fim de que se cumpra seu projeto de amor, num espaço de tempo não longe e distante, não no final dos tempos, mas aqui e agora. Catástrofe, destruição, estrelas e astros caírem dos céus não são elementos e acontecimentos conclusivos da história (cf. Mc 13, 24-32). O que realmente deve ser necessário cair e colocar no chão são as estrelas e os ostros catastróficos do nosso egoísmo e orgulho, com os frutos que nos torna insensíveis aos problemas dos irmãos famintos, do desempregado, daqueles que lutam por um pedaço de chão e pelos seus direitos mais elementares.

Animados pela fé, a partir de Jesus, que ensina-nos a buscar a paz verdadeira e duradoura, ao declarar-se pão da vida, cumprindo inteiramente a vontade do Pai, quando sacia e mata a fome da humanidade, no amor consequente, no qual tudo se transforma em dom e partilha, é que nos associamos às promessas divinas, a fim de prestarmos conta de todos os nossos compromissos, na satisfação de sermos cristãos, nas palavras do Papa Francisco: “A nossa alegria não nasce do fato de possuirmos muitas coisas, mas de termos encontrado uma Pessoa: Jesus, de sabermos que, com Ele, nunca estamos sozinhos” (…).

Eucaristia é dom, sacrifício, solidariedade e fonte de reconciliação. Aprendemos no catecismo que a missa é o sacrifício incruento, isto é, sem derramamento de sangue, oferecido por Nosso Senhor Jesus Cristo através do ministro, do sacerdote. Quando celebramos a eucaristia, a Santa Missa, devemos ter a consciência clara de que se realiza o sacrifício de Jesus, que morreu na cruz, no calvário e que ressuscitou três dias depois.

“Graças” e “distribuição” são os elementos fundamentais na instituição da Eucaristia, a partir do Evangelho da multiplicação dos pães (cf. Jo 6, 1-12; Mc 6, 34-44; Mt 14, 13-21), porque nos revela o aspecto mais belo e maravilhoso de Jesus, preocupado com a criatura humana, num passado longínquo e, hoje igualmente, de libertar de todo o mal. Jesus, na sua obediência à vontade do Pai, matando a nossa fome, quer ver-nos acordados e atentos, para que nosso interior, totalmente livre, conduza à história pelo caminho correto, no grande desejo de Deus Pai, da sociedade nova e restaurada.

Por isso, nunca iremos nos cansar de falar de Dom Helder Câmara, no seu grande ardor e entusiasmo de místico na luta por justiça e paz, um homem profundamente marcado pela graça de Deus, no seu trabalho bem articulado e amor acendrado à Igreja pobre e servidora, consubstanciado aqui na sábia frase do Teólogo José Comblin: “Sou daqueles que tem a convicção de que os escritos de Dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina, daqui a mil anos”.

Concluo, guardando no íntimo do coração a mensagem de otimismo e esperança, deixada por esse pastor grandioso e amigo dos empobrecidos, o artesão da paz e cidadão planetário, bispo brasileiro mais influente no Concílio Vaticano II, ao abrir um caminho de esperança e renovação, na sua opção de profeta, marcada pela coerência, em favor dos sofredores, num desejo de mudança: “Se não engano, nós, os homens da Igreja, deveríamos realizar dentro da Igreja as mudanças que exigimos da sociedade”.

Por Padre Geovane Saraiva, sacerdote da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, colunista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso – [email protected]

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