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[Editorial] Fevereiro de 2016: O NOME DE DEUS É MISERICÓRDIA

 

 

Estamos no Ano Jubilar da Misericórdia e somos convidados a fazer uma experiência pessoal e profunda do Amor de Deus que se manifesta em no encontro com Jesus, o rosto da Misericórdia do Pai.

Do coração do Papa Francisco nos veio este Ano Jubilar Extraordinário – Ano da Misericórdia. Ele mesmo sempre de novo nos tem chamado para esta graça especial.

Dom José Antonio. Foto:arquivo.
Dom José Antonio. Foto:arquivo.

Em uma sua entrevista ao jornalista Andrea Tornielli, que se tornou um livro: O nome de Deus é misericórdia, mais uma vez o Papa dá suas respostas simples e diretas. A mim me chamou a atenção o final do livro, as últimas perguntas da entrevista em que resume sua compreensão do fundamental da vivência deste Ano Especial. Creio que será ouvi-lo diretamente.

Pergunta o jornalista: Quais as experiências mais importantes que uma pessoa de fé deveria viver no Ano Santo da Misericórdia?

E o Papa Francisco responde: “Abrir-se à misericórdia de Deus, abrir-se a si mesmo e ao seu coração, permitir que Jesus venha ao seu encontro, aproximando-se com confiança do confessionário. E procurar ser misericordioso com os outros.”

E feita a experiência de receber o Amor Misericordioso de Deus em si mesmo, transbordar como consequência, em gestos concretos, a misericórdia para com todas as pessoas, especialmente as que mais necessitam. E quem não necessita?!

Pergunta ainda o jornalista: As famosas “obras de misericórdia” da tradição cristã são ainda válidas para este terceiro milênio ou terão de ser repensadas?

Ainda o Papa Francisco responde: “São atuais, são válidas. Talvez em alguns casos se possa “traduzir” melhor, mas continuam a ser a base do nosso exame de consciência. Elas nos ajudam a nos abrir à misericórdia de Deus, a pedir a graça de entender que sem misericórdia a pessoa não pode fazer nada, e que “o mundo não existiria”, como dizia a senhora idosa que encontrei em 1992.

            Observemos acima de tudo as sete obras de misericórdia corporal: dar de comer aos famintos; dar de beber aos sedentos; vestir quem está nu; acolher os peregrinos; visitar os doentes; visitar os prisioneiros; enterrar os mortos. Parece-me que não há muito o que explicar. E se olharmos para a nossa situação, para as nossas sociedades, parece que não faltam circunstâncias e oportunidades à nossa volta. Perante o sem-teto que dorme debaixo da nossa janela, o pobre que não tem o que comer, a família dos nossos vizinhos que não tem o suficiente para chegar ao fim do mês devido à crise, por o marido perdeu o emprego, que devemos fazer? Perante os imigrantes que sobrevivem à travessia e desembarcam nas nossas costas, como devemos nos comportar? Perante os idosos solitários, abandonados, que não tem mais ninguém, que devemos fazer?

            Gratuitamente recebemos, gratuitamente damos. Somos chamados a servir Jesus crucificado em cada pessoa marginalizada. A tocar a carne de Cristo em quem é excluído, tem fome, tem sede, está nu, preso, doente, desempregado, perseguido ou refugiado. Ali encontramos o nosso Deus, ali tocamos o Senhor. Foi o próprio Jesus quem o disse, explicando qual será o critério pelo qual todos seremos julgados: todas as vezes que fizermos isso ao menor dos nossos irmãos, teremos feito a Ele (Evangelho de Mateus, 25, 31-46).

            Às obras de misericórdia corporal seguem as de misericórdia espiritual: aconselhar os indecisos; ensinar os que não sabem; advertir pecadores; consolar os aflitos; perdoar as ofensas; suportar pacientemente as pessoas difíceis; rezar pelos vivos e pelos mortos. Pensemos nas primeiras quatro obras de misericórdia espiritual: no fundo não tem a ver com aquilo que definimos como “o apostolado do ouvido”? Aproximar-se, saber escutar, aconselhar, ensinar acima de tudo com o nosso testemunho.

            Da acolhida ao marginalizado que está ferido no corpo e da acolhida ao pecador que está ferido na alma, depende a nossa credibilidade como cristãos. Recordemos sempre as palavras de São João da Cruz: “No anoitecer da vida, seremos julgados sobre o amor”.

            E Amor é o que Deus é (cf. 1 Jo 4,8). Deus é Amor – e este Amor é Misericórdia para conosco e com todos.

 

+ José Antonio Aparecido Tosi Marques

Arcebispo Metropolitano de Fortaleza

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