Brasão da Arquidiocese de Fortaleza

Dom Aloísio Léo Arlindo, cardeal Lorscheider, sexto bispo e quarto arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza.

Querido povo de Deus, irmãs e irmãos em Jesus Cristo, reunidos nesta catedral, na celebração de aniversário de sua Dedicação e de ordenação de novos diáconos.

Mui querido arcebispo de Fortaleza Dom José Antonio.

Estamos acolhendo com muita honra e alegria uma relíquia do corpo de Dom Aloísio que o senhor arcebispo com a comunidade eclesial levará no final da celebração para a Capela da Ressurreição, nesta Catedral.

Recebi do senhor arcebispo, Dom José Antonio, com muita humildade, mas com bastante gratidão e alegria a missão de recordar – trazer de volta ao coração – a presença e o testemunho de Dom Aloísio, Arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza, de 26 de maio de 1973 (nomeação) a 12 de julho de 1995 (transferência). Acolhamos, pois, mais que a urna, o testemunho de vida e de pastoreio de Dom Aloísio. Ater-me-ei tão somente ao seu ministério episcopal na Arquidiocese de Fortaleza.

Cumprirei esta tarefa em dois momentos:

1 – apresentando as principais ações pastorais e administrativas feitas por Dom Aloísio na arquidiocese;

2 – apresentando suas palavras, em alguns trechos de palestras, cartas pastorais ou homilias, escritas ou pronunciadas em situações diversas e a grupos eclesiais diferentes.

A – PRIMEIRO MOMENTO: Principais Ações Pastorais e Administrativas

1 – Planejamento Pastoral

Em 1974, foi elaborado o primeiro Plano de Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza. A cada ano, até 1985, ano da descentralização da Arquidiocese em Regiões Episcopais, era publicado um novo Plano Pastoral, depois de um processo de avaliação e de uma assembleia pastoral. Ao todo, de 1974 a 1985, foram onze Planos Arquidiocesanos de Pastoral.

2 – Catedral Metropolitana

Dom Aloísio pôs-se em campo, para concluir a construção da Catedral. Após cinco anos de muito empenho, no dia 22 de dezembro de 1978, presidiu a solene celebração de Dedicação da Catedral Metropolitana de Fortaleza.

3 – Revigoramento da Pastoral Vocacional e criação de Seminários.

Dom Aloísio governou a Arquidiocese em um tempo de grave escassez de padres. O presbitério da Arquidiocese diminuiu consideravelmente com a abertura da Igreja, após o concílio, para a dispensa do celibato e a devida licença para padres receberem o sacramento do matrimônio, sendo, porém, afastados do ministério presbiteral. Acresça-se a esta carência a falta de ordenação de padres diocesanos, de janeiro 1966 a julho 1976. Dom Aloísio empenhou-se fortemente para resolver este problema: criou inicialmente o Centro Vocacional e o Instituto de Teologia Pastoral – ITEP, no Seminário da Prainha. Alguns anos depois, os seminaristas passam a residir no Seminário Cardeal Frings, hoje Seminário São José – Teologia. Em seguida, criou outro Seminário para os seminaristas que cursavam Filosofia. Já na segunda metade dos anos 80, criou o Seminário Propedêutico, para um ano de vivência comunitária e formação inicial dos jovens que desejam ser padres.

4 – Formação dos Leigos

Reforça a formação dos leigos, apoiando o Instituto de Ciências Religiosas – ICRE e a Escola de Pastoral Catequética – ESPAC.

5 – Padres Casados

Manteve, ao longo do seu ministério, encontros frequentes com os padres casados e suas esposas, para escutá-los e revigorá-los na fé, procurando sempre incentivá-los à inserção na vida eclesial. Acolheu, ou mesmo convidou, alguns a lecionarem na FAFIFOR, no ICRE, na ESPAC e no ITEP. Inclusive convidou um deles a participar da coordenação de Assembleias da CNBB Regional Nordeste 1 e a criar, em 1992, o atual Secretariado Arquidiocesano de Pastoral.

6 – Criação de assessorias e serviços arquidiocesanos

Começa a formação de Ministros da Eucaristia. Anima o serviço de integração e coordenação dos organismos de Promoção Social: Campanha da Fraternidade, Cáritas e Assistência Social. Reestrutura a Cúria Arquidiocesana como Centro de Pastoral Arquidiocesano. Reforça o Setor de Comunicação. Ouvindo os apelos da Assembleia Arquidiocesana de 1980, cria o Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos.

7 – Pastorais Sociais

Incentiva, desde o início do seu pastoreio, a criação das diversas pastorais sociais, seja a partir dos temas da Campanha da Fraternidade, seja a partir dos desafios da realidade, seja ainda, a partir de pastorais já organizadas em plano nacional. Dá total apoio às Comunidades Eclesiais de Base – CEBs.

8 – Movimentos eclesiais

Acolhe e apoia os novos movimentos eclesiais que começam a surgir na Arquidiocese, tais como o Cursilho de Cristandade, o Encontro de Casais com Cristo, a Renovação Carismática. Dá total apoio à criação do Conselho de Leigos na Arquidiocese.

9 – Regiões Episcopais.

Após dois anos de estudo e de debate em três assembleias arquidiocesanas, Dom Aloísio muda a organização estrutural e pastoral da Arquidiocese, criando seis Regiões Episcopais: Metropolitanas 1, 2, 3, Praia, Serra e Sertão.

Com a criação das Regiões Episcopais, a partir de 1986, não há mais elaboração de um Plano Arquidiocesano de Pastoral, nem Centro de Pastoral, nem Coordenação Arquidiocesana de Pastoral. O senhor arcebispo, escutando a assembleia arquidiocesana, define uma Linha Pastoral, ou seja, a Diretriz Pastoral da Arquidiocese. Cada Região, tendo em vista sua realidade específica e a Diretriz Pastoral Arquidiocesana, faz seu Plano Pastoral, cria sua coordenação, seu conselho pastoral, programa seus encontros e assembleias.

Como instâncias de unidade pastoral arquidiocesana, além da linha pastoral, manteve o Conselho Episcopal mensal, alternadamente com a presença de um coordenador de cada região Episcopal, o Conselho Pastoral Arquidiocesano, as Visitas Pastorais e a Assembleia Arquidiocesana a cada dois anos.

10 – Cartas Pastorais

Dom Aloísio escreveu quatro Cartas Pastorais:

  • Carta Pastoral sobre os Problemas de Terra na Arquidiocese – 1982;
  • Carta Pastoral sobre o uso e a posse do solo urbano – 1989;
  • Carta sobre a ação Pastoral na Arquidiocese de Fortaleza – 1989;
  • Carta Pastoral sobre a Dimensão Missionária da Vida Cristã – 1993.

11 – Visita Pastoral

A Visita Pastoral tornou-se um momento forte de evangelização, missão e articulação das Regiões Episcopais, pois não era feita mais a uma paróquia isolada, mas à Região Episcopal. Durava uma semana, normalmente de domingo a sábado, com a participação plena na Visita Pastoral de todos os padres e dos agentes de pastoral da Região, estes na medida de suas possibilidades de trabalho. Duas cartas pastorais foram publicadas como resultado dessas Visitas.

Inclusive, é bom que se ressalte, foi na Visita Pastoral à Região Episcopal Metropolitana 1, em 1994, que, durante a visita ao Presídio Penal Paulo Sarasate, houve o sequestro de Dom Aloísio, dos bispos auxiliares Dom Edmilson e Dom Geraldo.do vigário episcopal Pe. Aldo, hoje arcebispo emérito de João Pessoa, do diretor do Presídio e de outros acompanhantes.

12 – Criação do Secretariado de Pastoral

Acolhendo sugestão da 15ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, em 1992, criou, no dia 6 de outubro de 1992, o Secretariado Arquidiocesano de Pastoral, com o objetivo não de ser um Centro Pastoral. mas de ser um instrumento de coordenação pastoral e de articulação das Regiões Episcopais.

13 – Áreas Pastorais

Durante o seu governo episcopal, Dom Aloísio criou apenas onze paróquias. Havia uma carência muito grande de padres, mas não só isso: passa a pensar a paróquia como rede de comunidades. Em lugar de criar paróquias, começa, então, a criar áreas pastorais, com a presença de um padre, mas sem a provisão de pároco. Propunha que não houvesse a centralidade em uma matriz, fosse uma rede de comunidades. A mudança de nome, talvez ajudasse na mudança de atitude pastoral. Era um novo jeito de ser paróquia.

B – SEGUNDO MOMENTO

Até agora vocês ouviram-me falar sobre Dom Aloísio. Convido-os a escutá-lo. A palavra dele é mais reveladora que a palavra sobre ele. Todas as palavras a serem por mim pronunciadas vieram do seu coração, do seu espírito, de dentro dele, e nos chegaram através de sua voz ou de seus dedos.

1 – 1º Plano de Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza (1974)

A Igreja é salvação e graça, é missão e testemunho em comunhão com os outros. O existir em comunidade e, consequentemente, o agir em comunidade, é uma exigência da fé cristã, inteiramente conforme a exigência radical da pessoa, que constitucionalmente é social, está aberta aos outros. A fé cristã se vive em comunidade.

E na conclusão afirma:

Para o êxito mais feliz possível do nosso Plano Arquidiocesano é necessária a colaboração fraterna e generosa de todos. Um Povo de Deus, caminhando unido, coordenado e integrado é o mais apto para, como linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido, anunciar as maravilhas d’Aquele que a todos chama das trevas para a Sua luz admirável. (cf. 1 Pd 2,9).

2 – Carta Pastoral sobre os Problemas de Terra

Quanta gente, hoje, faz do dinheiro e do poder que ele dá, o ideal de vida. (…) Como é triste ver cristãos exigirem de agricultores pobres, colaboradores seus, pagamento de parceria acima do que a lei determina. Tudo bem considerado, tal conduta é uma blasfêmia contra o santo nome de Deus. Esqueceu-se completamente o Evangelho: “Não podeis servir a dois senhores; não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).

(…) A Arquidiocese de Fortaleza dará sempre apoio aos homens do campo, os pobres, que reivindicam seus legítimos direitos dentro da lei do Senhor Deus. Onde o homem do campo estiver sendo explorado nas relações de trabalho agrícola ou em seu legítimo direito de uso e posse da terra, a Arquidiocese de Fortaleza fará sentir a sua solidariedade. Fundamentada na palavra de João Paulo II, na Carta sobre o trabalho humano, a Igreja que está em Fortaleza, ou a Arquidiocese que é dizer o mesmo, acha-se vivamente empenhada nesta causa. Considera-a sua missão, seu serviço. Vê nela uma comprovação de sua fidelidade a Cristo, para dessa forma ser verdadeiramente a Igreja dos pobres.

Esta atitude de apoio e de solidariedade deve ser assumida por todos os que se dizem Igreja e que fazem parte da Arquidiocese de Fortaleza, padres, religiosos e leigos. Ninguém dos que se dizem cristãos está excluído e ninguém se exclua.

3 – Palavra de Abertura da 12ª Assembleia Arquidiocesana de Pastoral, em Canindé, novembro de 1985, quando foi decidida a criação das Regiões Episcopais.

O objetivo último e fundamental da reestruturação é o de uma evangelização mais eficiente e o de uma coordenação mais ágil e presente.

Evangelização, o que é?

É anunciar o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus (cf. “Evangelii Nuntiandi“, 22). É anunciar a boa nova da vitória sobre o pecado e a morte e a abundância de uma vida nova brotando da ressurreição de quem esteve morto, mas agora vive e vai à nossa frente (cf, Mt 28, 5.7; Mc 16,6-8).

(…) Não é suficiente evangelizar, é necessário também evangelizar-se ou deixar-se evangelizar.

O que é deixar-se evangelizar?

É colocar-se dentro da situação do nosso povo, do nosso povo de feições sofredoras como as de Jesus Sofredor (Puebla, 31); é colocar-se dentro do sofrimento, dentro da dureza de vida do nosso povo à semelhança do Verbo de Deus que se fez carne e “carregou as nossas enfermidades, tomou sobre si as nossas dores”, tornou-se o Homem das Dores (cf. Is 53,4).

(…) Não deveríamos fugir de dentro do nosso povo, mudando o nosso lugar social; não deveríamos subtrair-nos ao sofrimento do nosso povo vitima dos mecanismos de dominação geradores da pobreza extrema que afeta numerosíssimos setores de nossa Arquidiocese (cf. Puebla, 1159, 1160). Enquanto houver alguém do nosso povo sofrendo, enquanto houver alguém do nosso povo desrespeitado, enquanto houver alguém do nosso povo na opressão, nós com ele deveríamos estar.

4 – Palavra Proferida no Conselho Pastoral da Região Metropolitana III na reunião de avaliação da Visita Pastoral à Região, de 5 a 13 de junho de 1993

Para uma efetiva evangelização da cidade na Metropolitana III, deve-se começar pensando mais em área pastoral do que em paróquias distintas. Uma grande área pastoral onde o cuidado pastoral, o cuidado pela evangelização é solidariamente confiado aos padres, às religiosas, aos agentes de pastorai da Região sob a coordenação do Vigário Episcopal. É urgente superar uma pastoral paroquial para passar a uma pastoral regional, que abranja, numa profunda unidade orgânica de pastoral, a Região toda.

(…) O que nos amarra bastante é o que se caracteriza como evangelização versus sacramentalização. A medida que colocarmos as nossas qualidades e os nossos carismas a serviço dos nossos irmãos e irmãs de modo especial, a serviço dos mais abandonados e esquecidos, experimentaremos sempre mais que a Eucaristia e os demais Sacramentos se constituem meta e cume onde irá desembocar toda a nossa atividade pastoral, evangelizadora. A nossa missa e os sacramentos cada vez se celebrarão mais no altar do mundo, nas praças públicas, nos locais onde se decide a sorte do operário, do deserdado, do direito da criança e do menor, da mulher do povo, do solo urbano. É ali que se vai transubstanciando (=transformando) a realidade injusta em Sacramento de comunhão, justiça, fraternidade, e se vai formando o Povo de Deus e o Corpo de Cristo. Evangelização é presença comunicativa, alegre, ajuda entre vizinhos, serviço, é doação.

5 – Discurso aos padres no almoço de despedida, no Seminário da Prainha, em agosto de 1995

Quero despedir-me manifestando-lhes toda a minha gratidão por aquela solicitude constante que vocês tiveram comigo no pastoreio evangélico do nosso bom povo. Foram anos de convivência que me ajudaram a crescer. Se alguém ganhou com esta convivência fui eu. Foi para mim uma rica escola de um aprendizado único. Parto bem mais sacerdote do que quando há 22 anos atrás aqui chegava. Só posso dizer muito obrigado a todos, apresentando ao mesmo tempo o pedido de perdão por toda tristeza, decepção, angústia, irritação, revolta, rejeição, que lhes provoquei em algum momento ou até em todos estes anos. Pauper vir sum ego! Arrependo-me de todo o mal que lhes causei. Da minha parte não levo mágoa nem ressentimento.

6 – Ao Povo de Deus na Celebração de Despedida no Estádio Castelão, no dia 13 de agosto de 1995.

Aproximando-se a hora em que já não serei mais Arcebispo de Fortaleza, quero dizer a minha gratidão a vocês que nestes 22 anos me edificaram, a vocês aos quais aprendi a amar profundamente.

(…) Já é tarde. Não posso dizer-lhes como os discípulos de Emaús disseram a Jesus: “permaneça aqui conosco, pois a tarde cai e o dia já declina” (Lc 24,29), a noite vem chegando. Vamos despedir-nos. Cada qual leva consigo tanta saudade. Cada qual gostaria que esta hora nunca tivesse chegado. Mas a hora mesmo boa e sem separação será só aquela hora feliz e gostosa em que “Deus com eles, será o seu Deus. Ele então enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! “As coisas antigas se foram” (Apc 21, 3-5). Esforcemo-nos por estarmos todos presentes naquela hora.

Adeus! Que o bom Deus os abençoe e permaneça sempre com todos vocês. Amém.

Miguel Arcanjo Fernandes Brandão

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